A voz do Papa

Para uma sociedade voltada para a defesa da morte - embora pretextando o contrário - é alentador ouvir a palavra do Papa Francisco exaltando a vida, condenando o aborto, a discriminação racial e de gênero e a condenação em termos definitivos da pena de morte no sistema penal dos países. E este apelo à vida, ao princípio do respeito à dignidade humana, fere sem dúvida os interesses daqueles propagadores da violência em suas manifestas formas, tais como a construção de muros no lugar de pontes, a separação dos pais dos filhos, como forma de controle imigratório, a defesa da castração química para punir os crimes de estupro, primeiro passo para a tortura - e esta é também hoje defendida por nações ditas democráticas.

E se o retrocesso persistir, logo advogarão a volta da Lei de Talião, " do olho por olho, dente por dente", dos linchamentos públicos, dos campos de concentração de Hitler e dos nacionalismos extremados, como também já se observa em vários países com políticas radicais contra o estrangeiro.

O Brasil apresenta aspectos preocupantes de ondas extremistas fomentadas na internet, onde se tenta condenar um protecionismo estatal necessário em favor dos milhões de brasileiros postos à margem do processo civilizatório e, portanto, das conquistas do progresso.

Para um País nascido à luz da cruz, católico e cristão - embora o Estado seja laico - não se há de ignorar as lições de fraternidade e de amor bebidas ao Evangelho, para enaltecer e buscar tão somente a riqueza a qualquer preço, a desumanidade, a justiça vingativa, o individualismo e o egoísmo tão presentes hoje.

Eduardo Fontes
Jornalista e administrador