A verdade das urnas

Com tranquilidade, foram realizadas ontem as eleições para os principais cargos públicos do País, o que merece ser enfatizado pelo clima de acirramento que dominou a campanha. Cumpriram-se assim o preceito constitucional e o princípio democrático pelo qual os poderes da República devem ser renovados periodicamente para dar a seus ocupantes a legitimidade necessária durante os seus mandatos. Considere-se que a Democracia é aprovada pela maioria absoluta dos brasileiros como a melhor forma de governo. Por isso, é importante que, mesmo com todas as adversidades, esse ritual de escolha seja obedecido. A Justiça Eleitoral exerce função relevante na condução desse processo e tem exercido sua autoridade de forma serena e técnica.

Uma das características dessas eleições foi o período muito curto - apenas 45 dias - de campanha. Não se pode ainda culpar a exiguidade do tempo pela circunstância de que a campanha gratuita pela televisão e rádio não ter revelado a mesma eficiência das vezes anteriores, em que foi determinante para o êxito de muitas candidaturas. Observa-se, por exemplo, que dois dos três candidatos com maior tempo de exposição - Geraldo Alckmin e Henrique Meireles - não melhoraram nem um pouco suas posições com a exposição mais vantajosa que tiveram nos canais abertos. Tendo em vista que muito dinheiro público é empregado nesses programas, é preciso analisar se vale a pena mantê-los no futuro. Paralelamente, a matéria deve ser reavaliada pelos estudiosos dos fenômenos da comunicação social.

A marcha da apuração em tempo real permitiu que fossem feitas algumas projeções. O primeiro dado a ser observado é o número de abstenções e de votos brancos e nulos está na média, o que de certa forma não surpreende porque as campanhas tomaram um ritmo emocional intenso por dois acontecimentos: o atentado sofrido pelo candidato Jair Bolsonaro e o indeferimento da candidatura do ex-presidente Lula da Silva, substituído por Fernando Haddad.

Para governador do Ceará, o candidato do PT Camilo Santana saiu vencedor, com grande margem de votos, encerrando a disputa logo neste primeiro turno. Essa vitória será consagradora se ele conseguir formar uma bancada poderosa na Assembleia Legislativa. Quanto aos senadores, a eleição de Cid Gomes (PDT) se firmou desde o começo da apuração, enquanto a segunda vaga foi objeto de uma disputa que seguiu indefinida entre os candidatos Eduardo Girão (Pros) e Eunício Oliveira (MDB), com a vitória apertada do primeiro. Já era prevista a dificuldade de reeleição do atual presidente do Senado Federal.

A campanha presidencial se revestiu de características de excepcionalidade e, embora Jair Bolsonaro tenha recebido impulso extra nos últimos dias, a disputa deve se transferir para o segundo turno, pois nenhum candidato conseguiu a maioria absoluta dos votos válidos. Seu adversário será Fernando Haddad (PT). O cearense Ciro Gomes (PDT), isolado nas alianças partidárias, ficou no terceiro lugar.

Os debates da sucessão presidencial foram bastante prejudicados pela quantidade de candidatos, pela guerra de informações nas redes sociais e pela discussão monocórdica sobre o tema de segurança pública. Aliás, a candidatura de Jair Bolsonaro empolgou o eleitorado com essa bandeira que beneficiou também todos os candidatos a governador que lhe seguiram o discurso. Em meio a esse turbilhão, foi esquecida a questão fundamental de como direcionar o Brasil no caminho do desenvolvimento econômico. O segundo turno será a oportunidade para os dois candidatos mostrarem seu verdadeiro posicionamento.