A perversidade das drogas

A ironia perversa das drogas: é claro que droga dá prazer; se não, ninguém usaria pela segunda vez. Logo de cara, que as consomem, sofrem efeitos colaterais, ruins e suficientes para evitar qualquer desejo. Quem fuma o primeiro cigarro de maconha pode ter efeito violento e com uso prolongado começa a ter crises de paranoia suficiente para cortar o barato de qualquer um. Na outra face da moeda, maconha para alguns dá o prazer como dá o sexo e uma boa comida. Depende como o cérebro reage.

Cocaína, álcool, nicotina e maconha agem diretamente sobre o "sistema de recompensa" do cérebro, aumentando a quantidade de dopamina circulando nos neurônios, podendo chegar dez vezes mais do que em estado normal e muito maior do que a encontrada durante o prazer cotidiano. Se alguém berrar em seus ouvidos ou ir em uma balada com música superalta, o tímpano se enrijece e reduz a transmissão dos sons.

Resultado: é preciso aumentar o som. Tolerância em drogas surtem cada vez menos efeito das drogas, e precisa de drogas mais e mais fortes. A cocaína, por exemplo, produz uma sensação de euforia. Quando o nível de dopamina volta ao normal, o drogado quer mais e mais cocaína para tentar obter o bem-estar anterior. Só o obtém com mais cocaína até aprender a dizer não. Se não disser "não" com a graça de Deus, drogas vêm e vão com mais e mais intensidade. Vários são os efeitos colaterais: música não tem mais a mesma satisfação, sexo não é tão prazeroso. Só cocaína dá prazer, e sempre menor.

O prazer habitual diminui cada vez mais e precisa de drogas cada vez mais fortes até chegar ao Crack. Sábias as palavras dos Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, que muito antes de qualquer pesquisa científica já espalhavam entre si a mensagem de que o vício não se cura. Um alcoólatra nunca será capaz de voltar a beber "normalmente". O vício, no máximo, se interrompe, ficando-se longe da droga um dia de cada vez.

Rossana Brasil Kopf. Psicanalista Advogada