A perigosa dependência

Ser caminhoneiro não é fácil. Viagens precárias, dias longe da família, rodovias cheias de buracos, armadilhas e bandidos sempre à espreita, roubando-lhes a carga transportada e, às vezes, a própria vida. Nestes últimos dias, o Brasil foi paralisado pelo movimento da categoria, que transporta 61,1% das cargas em nosso território. A principal reivindicação da greve, que durou mais de uma semana, era a mudança da política de reajuste constante dos preços do óleo diesel por parte do governo, impeditiva à rotina de trabalho daqueles profissionais.

Durante a paralisação, o País foi afetado com a falta de combustíveis nos postos e aeroportos, o desabastecimento em feiras livres e supermercados e até com a suspensão de cirurgias em hospitais que dependem de insumos básicos para sua realização. À parte as justas bandeiras dos grevistas, ficou claro que é incômoda e o País perigosamente dependente do transporte rodoviário.

O movimento causou prejuízos bilionários à economia da nação e ao dia a dia de todos os cidadãos. Os fatos, com todos os seus desdobramentos, mostraram nitidamente que um país tão vasto não poderia jamais depender apenas do modal rodoviário para o escoamento de sua produção, serviços etc.

Se tivéssemos uma malha ferroviária eficiente, bem como hidrovias em rios de grande extensão, talvez não tivéssemos passado tantas aflições como há bem pouco as vivemos. Historicamente, desde a década de 1950 privilegiou-se a rodovia, quando certo seria continuar os investimentos em ferrovias por todo o País, barateando os custos de mercadorias, levando-as aos mais longínquos rincões da nação. Enquanto a indústria automobilística era estimulada, praticava-se o sucateamento progressivo das ferrovias, verdadeiro crime de lesa-pátria que culminou com o desmantelamento da Rede Ferroviária Federal no governo do tucano FHC. Provado está que um País deste tamanho não pode continuar refém de caminhoneiros. O Brasil precisa investir em opções de transporte de carga, não se limitando às rodovias, para que não caiamos novamente na situação vexatória que há pouco enfrentamos.

GILSON BARBOSA
Jornalista