A Lua de Ramiro Feio

<CW-29>Século passado. Inúmeros personagens populares vagueavam pelas ruas do Crato. Muitos deles vivificados em causos oralizados e na História. Ramiro Feio ou Ramiro, o Feio, fez-se um e queixava-se: “não saber explicar porque não subiu alto na vida, apesar do ‘pai engenheiro’, metendo lenha nos grandes ‘engenhos’ de rapadura, no pé da serra do Araripe...”.

Espirituoso no respostar, sagaz no troco às pilhérias e solícito nos préstimos foi sempre querido na cidade.
Servidor da municipalidade e porteiro do Seminário São José, onde morou, granjeou a amizade do Monsenhor Francisco de Assis Feitosa, a quem atendia como recadeiro e zelador dos aposentos do bispado.

Fiel em tudo e pessoa da mais alta confiança recebia atenções dos padres e dos seminaristas.

Época de pleito no município. Empolgou-se com a candidatura a prefeito do professor Pedro Felício Cavalcanti (1905 – 1991). Dia da eleição. Ao destinar-se à seção eleitoral, o título caiu-lhe da mão e o vento levou-o de roldão.

Transeuntes, em ajuda, tentavam pegar o documento e logo ouviram, com a calma que lhe caracterizava: “Não se preocupem não, minha gente! Quando ele chegar à frente da casa de Pedro Felício, ele vai esbarrar!”.

Neil Armstrong e Edwin “Buzz” Aldrin, em 20 de julho de 1969, pisaram na Lua. Assunto recorrente dos cratenses.

Incrédulo, Ramiro desconfiava da conversa de homens viajando pelo cosmo. Ouvia as notícias no rádio de pilha. De tantos comentários, vídeos na televisão e fotografias nos jornais, passou da negação à dúvida. Da dúvida, a um início de crença.

Era noite e resolveu ir a Praça Siqueira Campos. Ali, olhou para o céu e viu a alvura lunar. Parecia clarear mais que de costume. Viu até São Jorge em seu cavalo.

Não desviou a vista do astro dos poetas e enamorados. E, indiferente aos presentes, falou alto: “Graças a Deus que eles não mexeram na instalação!”.


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