A importância da democracia

Gostaríamos de iniciar este texto mencionando uma fábula de Esopo, “O Náufrago”:

Um rico ateniense navegava com outros passageiros. Veio uma forte tempestade e o barco virou. Enquanto todos os seus companheiros lutavam nadando contra as ondas, o ateniense não parava de invocar Atena, prometendo-lhe uma oferenda atrás da outra se ela o salvasse. Um dos náufragos, que nadava a seu lado, disse-lhe: - Convoca Atena e também teus braços. Ao procurar socorro convocando os deuses, é bom também fazermos nossa parte.

Por sua vez, como sabemos, a democracia é o governo em que o povo exerce a soberania, comprometendo-se com a liberdade e a igualdade social. A luta democrática não pode ser eventual, mas permanente. Para tanto, seria bom refletir sobre a conclusão da citada fábula. Ademais, democracia não significa apenas colocar um voto na urna ou digitar um número. Trata-se de um processo bem mais amplo, onde a participação popular, a recusa ao fanatismo, a defesa das minorias e da pluralidade, o respeito aos dispositivos constitucionais são atitudes fundamentais. Dessa forma, não basta pedir ajuda dos deuses, como na fábula citada, mas também fazermos a nossa parte, mediante o exercício da atividade política, no seu sentido amplo, não apenas no aspecto eleitoral.

Em reunião realizdaa na cidade do México, semana passada, tivemos a oportunidade de participar de um seminário sobre a realidade econômica e social da América Latina. Foram discutidos temas relacionados com a Alca, desemprego, narcotráfico, questão social, distribuição de renda, dentre outros. No entanto, o assunto que despertou a maior atenção foi a situação da democracia nos Estados da América Latina. A maioria dos países representados passou por momentos autoritários até os anos 80. Os movimentos de redemocratização permitiram melhores condições, notadamente no tocante aos aspectos ético e moral em razão da transparência inerente às democracias. É claro que a situação socioeconômica latino-americana ainda é muito grave, porém a desejada independência dos Poderes constituídos, a liberade de imprensa, a auto-estima e a consciência dos direitos e obrigações das pessoas, são pontos básicos para a consolidação da democracia e, em conseqüência, a certeza de uma melhor qualidade de vida. Vale ressaltar que a pior democracia é preferível à melhor ditadura, dentro da perspectiva de liberdade e de uma visão estratégica.

Por fim, cabe lembrar Noberto Bobbio, defensor da democracia, dos direitos individuais e da lei, ao analisar o “liberal-socialismo”, destaca idéias compatíveis com a liberdade, a igualdade de oportunidades e a justiça social.

Professor e economista