A dor da ostra

Apesar de os orientais tratarem a dor como mãe, posto que ela, somente ela nos ensina a arte do bem viver. Na adversidade é necessário criar estratégias de autopreservação, instinto básico para a sobrevivência da própria vida. Quando estamos passando por uma dor, não podemos e nem tampouco devemos nos afastar dela. Ela, quando é dilacerante, nos consume e parece querer nos matar. Contudo, é preciso ouvir o que ela tem a nos ensinar.

Se considerarmos a mente como parte do corpo, este se apropria da mente, nos deixando acreditar que o cérebro não resistirá. Isso porque é no corpo que, via de regra, a dor de diversas formas se manifesta. Mas a mente produz a inteligência, raiz da sabedoria que surgirá. Como bem pontuou Victor Hugo: "o sofrimento educa a inteligência". A sabedoria do corpo, então vai, pouco a pouco, reagindo e como um lagarto - a dor - vai dando lugar ao desabrochar de uma linda borboleta: a sabedoria.

O pensamento vai ganhando contornos positivos e, como consequência, o equilíbrio que nos parecia impossível, vai se configurando na dualidade corpo e mente, e a dor se amenizando, perdendo força, até "desaparecer". Inevitavelmente, dependendo dela, fica apenas a lembrança. Mas isso é até uma dádiva, ali, naquele espaço de dor, dificilmente nos entregaremos; isolamos aquela dor, até que outra venha aparecer. Disso é feita a vida! Dessa forma, não há como se criar o que é belo e de fato, dar razão à existência humana, senão compreendido o papel "belo" que a dor exerce sobre cada um de nós. O professor Rubens Alves adverte: "ostra feliz não produz pérola". A dor é a ostra que chega às nossas mãos, nos concedendo a maravilhosa oportunidade de transformá-la em arte, em beleza. Não seria isso o que chamamos de felicidade?

Edmar de Oliveira Santos. Escritor