Tecnologia amplia emprego e criação de novos negócios

Bancos sociais ajudam empreendedores com a concessão de empréstimos e ajudam a elevar as vendas

Escrito por Redação ,

Ao mesmo tempo em que a digitalização das moedas sociais viabilizou o acesso das comunidades a vários serviços, a tecnologia e a própria criação dos bancos solidários levou uma maior quantidade de pessoas a comprar nos mercados locais, o que consequentemente incentivou a abertura de novos negócios.

Nos últimos 10 anos, as vendas nos comércios no bairro Conjunto Palmeiras e entorno cresceram cerca de 30%, calcula o coordenador do Banco Palmas e diretor-presidente da Rede Brasileira de Bancos Comunitários (RBBC), Joaquim de Melo.

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"O Conjunto Palmeiras de 1998 era uma favela que não tinha nada, só pequenas bodegas, mas o comércio se valorizou muito quando as pessoas começaram a comprar localmente. Hoje tem supermercado, farmácias, peixarias, etc.", diz, ressaltando que a oferta da moeda social, revertida em investimentos locais, fomentou em duas décadas a geração de aproximadamente 1.800 postos de trabalho.

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Com o auxílio de um empréstimo feito no Banco Palmas, a produtora de doces e salgados Márcia Dutra driblou o desemprego e montou um pequeno negócio na porta de casa. O pequeno negócio foi crescendo gradativamente e os alimentos agora são destinados para revendedores, em grande quantidade.

"Quando peguei o empréstimo, não era muita coisa. Aos poucos, fui pedindo outros empréstimos e melhorando a minha venda. Com o boca a boca ganhei visibilidade e agora trabalho em uma equipe de quatro: eu, meu marido, meu irmão e meu primo", conta. A microempresária continua a trabalhar em casa, perto das duas filhas, mas com um faturamento até cinco vezes maior.

O Banco Palmas oferece aos moradores da região empréstimos em valores entre R$ 50 e R$ 15 mil. Para quem vai abrir um negócio, o valor máximo disponível é de R$ 5 mil, tendo em vista a maior margem de risco. O empréstimo em palma - limitado ao uso na localidade - não tem juros. Em reais, os percentuais variam de 1% a 3%, sendo 1% para empréstimos de até R$ 5 mil, de 2% para até R$ 10 mil e de 3% para até R$ 15 mil.

"O juro de empréstimo no Banco Palmas é mais baixo e ainda não tem a burocracia que os bancos tradicionais normalmente têm. Eu posso dizer em quantas parcelas quero pagar e eles ainda ajudam a fazer o cálculo para saber se você vai conseguir pagar a dívida", confirma Dutra, também usuária do E-dinheiro.

Gargalos

Apesar de todas os benefícios proporcionados pelo aplicativo E-dinheiro, nem todos os municípios podem usufruir da tecnologia. Em Irauçuba e Ibaretama o acesso à internet e rede móvel ainda é limitado. Somado ao problema, as moedas de papel também deixaram de circular.

"Nossa moeda (cactus) parou de circular em 2010; ficou ultrapassada até por uma questão de segurança. Também tivemos dificuldade com o E-dinheiro por conta do sinal de telefone móvel e não evoluímos na implantação da plataforma", confirma Raquel Doroteu, presidente da Associação dos Jovens empreendedores do Juá, responsável pela gerência do Banco Juazeiro, localizado no distrito de Juá, em Irauçuba. "O E-dinheiro é uma boa ideia, mais fácil de usar, mas aqui infelizmente não funcionou", lamenta Doroteu.

Virtual ganha espaço

Alzeni Correia Vieira é operadora do sistema E-dinheiro em Choró, onde até 2016 circulava a moeda social sabiá, via Banco Sertanejo. Com o desgaste do papel e a impossibilidade de fabricação de novas moedas, o E-dinheiro ganhou espaço. Mas ainda pequeno. "Hoje, são 15 comerciantes cadastrados no aplicativo. Eles até gostam, mas não tanto porque não movimentam dinheiro. Também existe uma dificuldade das pessoas em usar o app".

De acordo com o presidente do Corecon-CE e professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Lauro Chaves Neto, embora as moedas sociais tenham sido criadas para desenvolver a economia de territórios delimitados, elas não recebem nenhum tipo de garantia do Banco Central do Brasil. "Se você tem real, o Banco Central garante que aquele real vale. Já uma moeda local não tem nenhuma autoridade monetária que garanta a validade daquela moeda". Por outro lado, o problema acaba sendo bom, já que a circulação da moeda fica restrita a determinadas regiões. Outro entrave, acrescenta o economista, diz respeito ao acesso irregular da tecnologia.

"É mais um fator limitante, principalmente saindo das grandes cidades. Mesmo tendo acesso à internet, existe uma parcela da população acima de 50 anos que sente dificuldade em usar e confiar em aplicativos". 

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