Taxa maior de trabalhador em desalento prejudica retomada

Economia brasileira não pode reagir com mais pessoas sem emprego e sem buscar vagas, dizem especialistas

Escrito por Redação ,
Legenda: Pesquisa indica que 12,7 milhões de pessoas no País continuam desocupadas

Mesmo indicando uma taxa de desocupação 12,15% menor para pessoas com idade para trabalhar (14 anos ou mais) no trimestre de junho a agosto deste ano, a Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio Contínua (Pnad Contínua) traz também um dado que merece ser observado com cuidado, pois sinaliza entrave para a retomada da economia do País, segundo apontam especialistas. Trata-se do desalento - quando o trabalhador desiste de procurar emprego e também não realiza nenhuma atividade - que soma 4,8 milhões de pessoas em todo o Brasil.

Este contingente de pessoas desalentadas no trimestre de junho a agosto de 2018 ficou estável em relação ao trimestre anterior. Porém, na comparação com o trimestre do ano passado (4,2 milhões), houve alta (13,2%), de acordo com os dados da pesquisa elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "O desemprego vinha caindo por conta do aumento do desalento, mas nesse mês em específico houve uma geração de postos de trabalho nas mais diversas formas de inserção, se destacando o setor público. Esse é um dado muito positivo na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Mas quando olhamos um período mais longo, vimos que o número de vagas no setor privado com carteira assinada continua caindo. A melhora atual não foi o suficiente para reverter a trajetória anterior", destaca o coordenador de estudos de análise de mercado do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Erle Mesquita, ao analisar a situação das 12,7 milhões de pessoas desocupadas em todo o País.

Segundo ele, o desalento impacta diretamente no endividamento das famílias, atrasando ainda mais a retomada econômica do País. "Além disso, nós temos muitas pessoas jovens ainda, em plena idade para trabalhar, nessa situação. Essas pessoas contribuem para que as mais velhas se aposentem e assim sucessivamente. Com essas pessoas deixando de contribuir formalmente, nós podemos ter um problema em relação a isso daqui a algumas décadas", observa o coordenador do IDT.

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Fatores

Para o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Aécio de Oliveira, o aumento do desalento pode ser a principal explicação para a redução da taxa de desocupação. "A pesquisa vai perguntar se a pessoa está trabalhando ou se está procurando alguma recolocação. Caso ela não esteja exercendo nenhuma atividade, nem mesmo na informalidade ou por conta própria, ela está no desalento. Mas isso não quer dizer que elas não procurem as oportunidades quando aparecem", acrescenta.

Na análise do professor, os desalentados estão realizando alguma atividade. "Nem que seja no sinal de trânsito limpando para-brisa de carro, porque um assalariado não pode se dar o luxo de ficar sem renda para sustento, então ele tem que fazer algo. Entre os jovens, a hipótese de que pelo menos uma parte tenha entrado para a criminalidade por conta do retorno rápido que dá", explica.

Subutilização

A taxa de subutilização - que soma desocupados, subocupados ou força de trabalho potencial - ficou estável, segundo o IBGE. No trimestre de junho a agosto foi de 24,4%, contra 24,6% do trimestre anterior. Em números absolutos foi de 27,5 milhões, 27,6 milhões no trimestre anterior e 26,8 milhões em igual trimestre de 2017.

A população ocupada é hoje de 92,1 milhões, alta de 1,3%, ou mais de 1,2 milhão de pessoas, em relação ao trimestre móvel anterior. Ante igual período de 2017, houve alta de 1,1%: 91,1 milhões. O número de empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada se manteve em 33 milhões. Já o número de pessoas que trabalham por conta própria cresceu 1,5% ante o trimestre anterior.

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