Projeto terá R$ 2 mi para capacitação de pessoas em situação de rua

Realizado pela Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza, o programa 'Novos Caminhos' prevê, em 2019, conceder cerca de 300 oportunidades de treinamento para reinserção no mercado de trabalho

Escrito por Camila Macelo , camila.marcelo@diariodonordeste.com.br

Fortaleza saiu na frente e foi a única capital do País a realizar o projeto "Novos Caminhos". Resultado: não só conseguiu renovar o programa, como teve verba dobrada para a edição deste ano, com previsão de início em fevereiro. Em 2019, o programa terá R$ 2 milhões para aplicação de treinamentos e capacitações ofertados a pessoas em situação de rua.

"Lançado em 2014, mandaram-nos R$ 1 milhão para treinamento e capacitação. A Capital cearense foi a única do Brasil que executou o programa. E em decorrência disso, quando prestamos conta no fim de 2018, pelo fato de a cidade ter sido a única, a União prorrogou e, em vez de R$ 1 milhão, mandará R$ 2 milhões para cadastrar as pessoas que estão em situação de rua", relata Elpídio Nogueira, titular da Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza (SDHDS).

A iniciativa é voltada à inclusão social, através do trabalho, de pessoas em situação de rua, usuários de álcool, crack e outras drogas. Ao longo de um ano, conforme Elpídio, cerca de 40 pessoas foram empregadas, sendo 18 diretamente ligadas à Prefeitura.

Entre eles está Rogênio Vasconcelos. Por problemas familiares e uso de drogas, há dois anos, viu-se sem ter para onde ir, tornando a rua a sua moradia aos 47 anos. Foi por menos de um mês, e o que parece pouco tempo para alguns, para ele foi uma experiência de uma vida inteira. "Conheci do generoso ao egoísta, malandro, pilantra, 171, assaltante, mas também muitas pessoas maravilhosas, que tinha uma simples banda de pão e dividia com a gente. Essa minha convivência foi um dos melhores remédios. Você vira bandido ou vira homem, como eu virei", pontua Vasconcelos.

Foi no abrigo, ao deparar-se com pessoas querendo ajudar e tirá-lo dessa situação, que ele decidiu mudar. "Vi pessoas que não eram ligadas à minha família estendendo a mão. A entidade foi o espaço que deu a maior força para a minha mudança. Naquele momento percebi que queria transformar a minha vida", lembra Rogênio.

Depois de aulas voltadas para o comportamento pessoal e de cursos para trabalho em portaria e serviços gerais, conseguiu um estágio no Mercado São Sebastião. Ao fim do teste, não foi efetivado. Mas não por falta de capacidade e, sim, porque tinha muito potencial.

Assim, a própria SDHDS incorporou-o ao grupo de motoristas da Secretaria. Atualmente, ele trabalha no Paço Municipal, ligado à demanda da primeira-dama.

"Hoje sou um homem feliz, livre, não dependo de família. Trabalho, sou um homem limpinho, honrado. Acordo 5h, todo fim de tarde faço minha caminhada e meu organismo está limpo. Tenho 48 anos e não me troco por um de 18", comenta.

Mudanças

Para este ano, a ideia é promover entre sete e dez cursos e atender a cerca de 300 pessoas, além de aumentar o tempo de permanência no programa. A bolsa prevista é de R$ 410, para ajudar durante a participação no projeto.

"As pessoas cadastradas também terão direito a almoçar no restaurante, no Centro da cidade. Por meio de uma identificação, elas pagarão R$1,00 pela refeição. Isso vai facilitar a vida delas", reforça Elpídio Nogueira.

Ele ainda destaca que o montante de R$ 2 milhões será destinado à capacitação, treinamento e pagamento de bolsas para pessoas em situação de rua, considerando a assiduidade nas atividades.

A reinserção no mercado de trabalho será mais voltada para a iniciativa privada. "Eu quero fazer um apelo a CDL e empresas de Fortaleza para aproveitar a mão de obra e tirar as pessoas das ruas", acrescenta o secretário.

Para os que irão participar dessa nova edição, Rogênio alerta: "pode existir todo um equipamento ao seu favor, mas se o cidadão verdadeiramente não quiser mudar, não tem nada nesse mundo que mude a vida dele. Ele tem que querer mudar".

Mapeamento

Em 2015, foi feito um levantamento no Brasil e, em Fortaleza, foram contabilizados 1.734 moradores de rua. Agora, o cenário é diferente. Para saber sobre essa nova realidade, a Prefeitura começou a mapear essa realidade, pela Praça do Ferreira em 2017, quando foram encontradas 247 pessoas em situação de rua. "Tinha muita gente com nível superior, que falava até quatro idiomas", ressalta Elpídio.

A partir desses resultados, o programa pretende direcionar parte das pessoas para participar da edição 2019 do "Novos Caminhos". Além disso, a Prefeitura resolveu ampliar o censo para toda a Capital.

A proposta é não apenas ter um número e, sim, conhecer os motivos pelos quais essas pessoas encontram-se na situação de vulnerabilidade e, a partir daí, propor meios para amenizar essa realidade.

Recursos

O censo, inicialmente programado para outubro de 2018, começará em fevereiro deste ano, por problemas com a licitação. "Não apareceu ninguém. E agora deu certo com a mesma empresa que fez o censo anterior, da Universidade Federal. Vamos ter reunião na segunda-feira (21) para formar a equipe que será basicamente com pessoas em situação de rua. Elas serão treinadas e receberão um salário para participar do cadastramento", explica.

Será possível fazer o levantamento por meio de recurso do Índice Geral de Desempenho (IGD) da SDHDS, que já está em caixa. A verba está estimada em R$ 650 mil. A previsão é de três meses para a coleta de dados e outros três para a análise do material apurado.

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