Indústria do CE lidera exportação de pares de calçados e prevê crescimento em 2019

Estado conta com mais de 350 fábricas e responde hoje por cerca de um terço da produção nacional

Escrito por Bruno Cabral , bruno.cabral@diariodonordeste.com.br

Maior produtor de pares de calçados do Brasil, o Ceará é responsável por cerca de um terço da produção nacional, com o maior número de unidades enviadas ao exterior e o segundo maior valor exportado pelo setor. No entanto, embora os calçados ainda sejam o segundo principal item da pauta cearense, sua participação vem caindo nos últimos dois anos, em decorrência do crescimento das exportações do setor metalmecânico, que responde por metade do que o Estado envia ao exterior. A produção também recuou, mas o objetivo do setor, que gera milhares de empregos no Ceará, é dar passos mais largos em 2019 e voltar a crescer.

Em 2016, último ano em que os calçados ocuparam a liderança das exportações do Estado, o setor calçadista respondia por 22,4% das vendas do Ceará ao exterior. Em 2017, a participação caiu para 14,8%. Até setembro de 2018, o percentual é de 11,3%. O Produto Interno Bruto (PIB) do setor calçadista é de R$ 2 bilhões, equivalente a 9% do resultado da indústria do Ceará.

“A indústria calçadista cearense e brasileira acumulam reduções próximas a 5% na produção. E até dezembro, a tendência é que a intensidade da queda se reduza, e, em 2019, volte a crescer, sobretudo no que se refere aos calçados infantis e masculinos, que vêm apresentando maior dinamicidade nos últimos anos”, avalia Guilherme Muchale, economista da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).

Além da cotação do dólar, Muchale ressalta que a produtividade do trabalhador, fatores ligados ao custo de transporte e tributação também afetam a competitividade internacional do setor.

De janeiro a setembro deste ano, por exemplo, as exportações de calçados no Estado caíram 16,6%, passando de US$ 211,6 milhões, em igual período do ano passado, para US$ 176,3 milhões neste ano, enquanto as exportações totais do Estado avançaram 5,7%. Por outro lado, as importações de calçados pelo Ceará cresceram 56% na mesma base de comparação, passando de US$ 4,4 milhões nos primeiros nove meses de 2017 para US$ 7 milhões em 2018.

No ano, a Argentina foi o maior comprador de calçados produzidos no Ceará, com US$ 40,6 milhões. Em seguida, vêm Estados Unidos (US$ 36,8 milhões), Paraguai (US$ 11,7 milhões), Colômbia (US$ 9,2 milhões), e Peru (US$ 5,5 milhões). Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

Empregos

Intensivo de mão de obra, o setor é o que mais gera empregos no segmento da indústria de transformação, com cerca de 57 mil postos de trabalho no Ceará, segundo dados deste ano da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Conforme informações do Observatório da Indústria, da Fiec, das 357 empresas calçadistas no Estado, apenas 7% são classificadas como grandes indústrias. Estas, no entanto, geram 87% dos empregos no setor, enquanto as microempresas, 53% do total, respondem por menos de 2% dos postos de trabalho.

Instalada em Iguatu há 21 anos, a indústria de calçados Dakota, maior unidade fabril do Centro-Sul do Ceará, iniciou suas atividades com 300 funcionários. No auge, esse número ultrapassou 1.500. Hoje, em decorrência da crise econômica, gera em torno de 1.300 empregos diretos. “No momento, não temos plano de expansão em decorrência da crise, mas, no futuro, ocorrendo a retomada, a empresa pensa em expandir a produção”, diz o gerente geral da unidade, Geronildo Bandeira.

Uma das operárias mais antigas da fábrica é Regina Lúcia Taveira de Andrade. “Esse emprego foi a oportunidade na minha vida porque consegui comprar uma casa, melhorei de vida, e quero continuar aqui até a minha aposentadoria”, frisa. “Meu filho trabalha aqui e nós estamos satisfeitos com essa oportunidade”.

Impacto econômico

A gerente administrativa Verônica Monteiro Vieira observa que a fábrica tem papel importante na economia local. “Gera milhares de empregos e contribui para aquecer o varejo”, pontua. “Mais de 70% dos colaboradores são oriundos da zona rural do município”. Atualmente, a unidade dispõe de sete linhas de fabricação de calçados, produzindo, por mês, 220 mil pares. A produção anual é estimada em 2,1 milhões de pares.

Diferentemente de outros setores da indústria cearense, que estão concentrados principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), a grande força do setor calçadista está no Interior, onde estão instaladas algumas das maiores fábricas do País. Apenas o Polo de Sobral é responsável por 61,3% da produção do Estado, enquanto o de Juazeiro do Norte responde por 8,9%, o de Horizonte por 5,9%, e o de Fortaleza por somente 3,1%, segundo dados da Abicalçados, referentes a 2017.

Em Juazeiro do Norte, as primeiras fábricas de calçados surgiram na década de 1970, ainda improvisadas nos quintais das casas, e começaram a se desenvolver a partir da década de 1990. Hoje, com cerca de 250 indústrias especializadas principalmente em chinelos e sandálias, o setor emprega diretamente cerca de 15 mil pessoas no Cariri. Até 2015, a Região figurava como o terceiro maior polo calçadista do Brasil, atrás de Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS).

Em Juazeiro do Norte, é comum encontrar alguém em uma família que já trabalhou ou ainda trabalha na indústria de calçados. No caso de Cícero Davi Sobrinho, foram 18 anos como soldador até criar sua própria fábrica e se tornar empresário. Uma máquina de costura e algumas formas doadas por sua antiga patroa foram o suficiente para ele. Junto com mais três funcionários, produzia 300 pares por mês. “Era muito sofrido. A gente trabalhava artesanal mesmo. Tudo manual”, lembra. Hoje, com mais de 30 empregados e mais 20 empregos indiretos gerados, sua indústria produz 18 mil pares de sandálias por mês, vendidas, principalmente, na Bahia, Maranhão e Pará.

“Juazeiro, há 7 anos, era uma grandeza”, lembra Cícero. Ele conta que algumas grandes fábricas fecharam e que uma unidade, que contava com 800 funcionários, por exemplo, hoje tem cerca de 200. “Aqui mesmo eu tinha um volume maior de negócios”, diz. A JR Calçados e Componentes, por exemplo, em 2016 empregava 109 pessoas, que fabricavam 10 mil pares por dia. Hoje, são 60 trabalhadores com produção de até 4 mil. 5% disso é exportado para o Paraguai e Uruguai.

Cenário 

A Grendene, maior empresa do ramo calçadista do País, opera em Fortaleza, Crato e Sobral. Por enquanto, não há previsão de novas contratações. Apesar das adversidades enfrentadas nos últimos anos, o setor ainda mostra muita força. “De cada 100 pares que o Brasil exporta, 33 saem de Sobral. O que reafirma nosso perfil de maior exportador brasileiro há 16 anos. Temos como clientes diretos 105 países”, explica Nelson Rossi, diretor industrial da empresa.

(Com informações de Honório Barbosa, Antonio Rodrigues e Marcelino Júnior)

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