Concessão de aeroportos no Nordeste acirra concorrência na Região

Após um ano à frente da operação dos aeroportos de Fortaleza e de Porto Alegre, a alemã Fraport voltará à disputa por terminais brasileiros em leilão previsto para março, com o terminal de Juazeiro do Norte incluído

Escrito por Yohanna Pinheiro , yohanna.barros@diariodonordeste.com.br

A concorrência entre os principais aeroportos do Nordeste promete se acirrar ainda mais com a nova rodada de concessões prevista para 15 de março. Juntamente com o terminal de Juazeiro do Norte (CE), os de Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE), João Pessoa (PB) e Campina Grande (PB) compõe um dos blocos que passarão das mãos da Infraero às da iniciativa privada ainda neste ano, como os de Fortaleza e Salvador (BA) em 2017.

Nesse contexto, a entrada da concessionária do Aeroporto de Fortaleza na disputa tem reflexo ainda incerto para a Capital. De acordo com a presidente da Fraport Brasil, Andreea Pal, uma equipe da empresa na sede em Frankfurt (Alemanha) está à frente do projeto. "Nós temos ajudado com informações e business cases, mas as decisões são todas tomadas em Frankfurt. Se vierem a ganhar, nós vamos operar, mas essa parte está em Frankfurt", aponta.

Enquanto na rodada anterior um operador não poderia arrematar dois aeroportos da mesma região, a próxima não terá esse tipo de restrição. Pelo menos, 12 grupos econômicos nacionais e internacionais já demonstraram interesse na nova rodada, entre os quais empresas que já atuam em aeroportos no País e outras que já disputaram em rodadas anteriores.

A transferência da administração do Aeroporto cearense para um gestor privado foi um dos principais motivos para a escolha de Fortaleza para o projeto de hub da Gol, em parceria com o grupo Air France-KLM. Com a concessão de mais terminais no País, a expectativa é que esse mercado se dinamize ainda mais.

Competição

Na visão de especialistas, a possibilidade de a Fraport operar aeroportos "concorrentes" pode não ser tão positiva para a Capital. Segundo o advogado especializado em Direito Aeronáutico e Regulatório, André Soutelino, caso a Fraport ganhe o bloco de aeroportos do Nordeste no leilão, é possível que haja um "redirecionamento" de voos entre os terminais. "Nesse cenário, ela só competiria com Natal e Salvador", aponta.

O engenheiro aeronáutico Igor Pires também teme que essa situação possa vir a causar um conflito. "Com certeza, eu esperaria que não houvesse uma competição entre os aeroportos em termos de voos internacionais", reflete.

Hoje, Recife lidera a movimentação de passageiros no Nordeste, com 7,5 milhões no acumulado de janeiro a novembro de 2018, seguido por Salvador (6,9 milhões) e Fortaleza (5,8 milhões), segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Vantagens

Questionada sobre o assunto, Andreea Pal destaca que o fato de Fortaleza ser um pouco mais perto da Europa do que o Recife é uma vantagem econômica para as aéreas. "Mas nós estamos em outros países com aeroportos com distância de 100 km um do outro, na mesma zona turística, e estamos desenvolvendo os dois. Todo o litoral tem bastante capacidade de desenvolvimento turístico e de tráfego", argumenta a presidente.

O pesquisador Alessandro Oliveira, do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (Nectar-ITA), também pondera que, mesmo que a Fraport venha a administrar os sete aeroportos no Nordeste, o de Fortaleza tem a vantagem de estar mais avançado neste processo. "Com os investimentos chegando mais rapidamente, o Aeroporto (de Fortaleza) estará mais preparado para quando o crescimento econômico voltar".

Se tudo seguir conforme o prazo esperado, a futura concessionária só deve assumir a administração dos aeroportos que serão leiloados no início de 2020, quando já devem estar quase prontas as obras de ampliação do Aeroporto da Capital. Além disso, Oliveira ainda argumenta que as alianças já existentes hoje, como o caso do centro de conexões operado pela Gol em parceria com o grupo Air France-KLM, podem consolidar na região.

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