Novas tarifas para o aço nos EUA trazem incertezas ao CE

Segundo economista, há o risco de as taxas tirarem a força do aço produzido no Estado em mercados asiáticos

Escrito por Samuel Quintela - Repórter ,
Legenda: De acordo com dados do Cipp, os Estados Unidos assimilaram 31,09% das exportações de placas de aço, saindo do Porto do Pecém, desde agosto de 2016

Coincidência ou não, no primeiro mês de vigência da implementação da taxação extra criada pelo governo de Donald Trump para limitar a entrada de aço e alumínio nos Estados Unidos, o Ceará registrou um aumento considerável na exportação de produtos de ferro ou aço em junho. A comparação é baseada em um levamento de dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). De acordo com os números - frente aos meses de janeiro, fevereiro e março deste ano -, o valor recebido pelo Estado para esses produtos praticamente quadruplicou no mês passado, evoluindo da média de R$ 24 milhões para o total de R$ 91,178 milhões. Na tabela do MDIC não consta valores para abril ou maio.

No entanto, para o economista e consultor internacional Alcântara Macêdo, o cenário ainda é incerto para o Estado, que poderá enfrentar dificuldades no setor produtivo do aço caso os Estados Unidos decidam manter o Brasil na política de sobretaxas para a importação. A guerra de tarifas entre norte-americanos e chineses, porém, pode acabar favorecendo outros itens da produção brasileira, com foco no setor do "agrobusiness".

"Com relação ao aço, se o Brasil não for, de fato, excluído dessa taxação dos Estados, nós teremos sim um peso consideravelmente negativo nas exportações nacionais no futuro, o que deve acabar prejudicando o Ceará, que depende muito da exportação dos produtos de aço", analisou Macêdo.

Fatia relevante

Segundo o levantamento do Ministério da Indústria, os produtos semimanufaturados de ferro ou aço representaram pelo menos metade de toda a exportação do Ceará em 2017 (50%) e no primeiro semestre de 2018 (55%). Para se ter uma ideia da relevância desses itens para a balança comercial estadual, a classificação de produtos que ocupou a segunda colocação nesses períodos foi a de calçados, que ficou com 13%, em 2017, e com 12% nos primeiros seis meses deste ano.

"Com os Estados Unidos deixando de assimilar aço da China, os produtos chineses podem acabar indo para o resto do mercado asiático", disse. "E com esse aumento da oferta, frente a uma demanda estática, pode acabar diminuindo os preços como um todo. E isso pode acabar prejudicando o Brasil e o Ceará", completou Macêdo.

Agronegócio

No entanto, o economista e consultor internacional afirmou que esse embate tarifário entre China e Estados Unidos deverá colaborar para o aumento das exportações de outros mercados brasileiros. Segundo Macêdo, caso a China decida revidar as sanções impostas pelos americanos com maiores impostos em produtos do agronegócio, a soja brasileira poderá ganhar espaço na carteira de importações chinesas.

"Para alguns produtos brasileiros, essa guerra será nociva, como para o aço, mas para a soja, a tendência é que tenhamos um aumento, até porque somos um dos maiores exportadores de soja na China, assim como para o milho", disse. Macêdo ainda comentou que a evolução do mercado será diferente para cada produto.

Período favorável

Apesar das ameaças de Estados Unidos e China sobre a essa guerra tarifária, as siderúrgicas brasileira, em média, triplicaram as vendas de aço para os norte-americanos. Em junho, as exportações desses produtos somaram US$ 548,6 milhões, ante os US$ 210,8 milhões de junho de 2017. Atualmente, Brasil, Argentina e Coreia do Sul foram a excluídos da sobretaxação mediante cotas de importação nos EUA.

No caso do Brasil, em vez da taxa extra de 25%, o limite para o aço semiacabado (como blocos e placas), usados como insumo por siderúrgicas norte-americanas, equivalerá a 100% da média exportada de 2015 a 2017.

Mercado americano

Atualmente, segundo dados do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), desde o início das exportações, em agosto de 2016, os Estados Unidos assimilou 31,09% do volume de placas de aço movimentadas pelo Porto do Pecém. Ao todo, foram exportadas 1.475.475 toneladas de placas ao país.

Considerando todos os tipos de produtos, conforme a base de dados do Ministério da Indústria, os Estados Unidos importou US$ 302,52 milhões de produtos cearense entre janeiro e junho de 2018, fazendo com que o mercado norte-americano assimilasse 29,5% das exportações cearenses. Os números demonstram a importância EUA para o Ceará, considerando que, ante o mesmo período de 2017, houve alta de 26,4% nas exportações.

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