Negócios que aceitam bitcoin crescem no CE, mas operações não

Criptomoeda é aceita em 20 estabelecimentos do Estado, porém, nenhum sds empresários entrevistados pela reportagem chegou a receber sequer um pagamento com a moeda virtual em mais de um ano de atividade

Escrito por Bruno Cabral , bruno.cabral@diariodonordeste.com.br

Após uma valorização superior a 1.200% em 2017, o bitcoin fechou 2018 com uma queda em torno de 70%, retornando a patamares de meados daquele ano. No entanto, diante de expressivas oscilações, a moeda digital vem sendo mais utilizada por quem espera ganhos rápidos do que por aqueles que a utilizam para comprar produtos ou serviços. Nos últimos dois anos, por exemplo, a quantidade de estabelecimentos no Ceará que aceitam bitcoin como meio de pagamento dobrou, mas as vendas com criptomoedas ainda não se tornaram uma realidade no Estado.

Em 2016, nove empresas cearenses aceitavam a moeda, sendo sete na Capital, uma em Sobral e uma em Juazeiro do Norte. Hoje esse número chega a 20, sendo 14 na Grande Fortaleza, duas em Guaramiranga, uma em São Benedito e em Iguatu, além das de Sobral e Juazeiro do Norte. Os dados são do site CoinMap, que lista locais que trabalham com a criptomoeda no mundo.

"A adoção de bitcoin e de outras criptomoedas como meio de pagamento tem duas barreiras principais: a primeira é a barreira tecnológica, de fazer um grande número de transações, e a segunda é a instabilidade de preços. Uma moeda com muita variação de preço acaba não criando uma referência de pagamento", diz Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, empresa que oferece assessoria para investidores em criptoativos.

Histórico do preço do bitcoin

Segundo Carvalho, enquanto uma rede de cartão de crédito, como a da Visa, suporta mais de 1.600 transações por segundo, a rede de bitcoin suporta de 3 a 7 operações por segundo. "Ainda existe um desafio de escalabilidade muito importante para a consolidação dessa tecnologia. Além de ser muito importante a estabilidade de preço, para que se possa fazer a conversão para outra moeda de acordo com a cotação do momento", diz.

Serviços à disposição

O empresário Neto Cunha, diretor do Hostel Guara, em Guaramiranga, decidiu, há cerca de um mês, aceitar bitcoin na sua hospedagem. Embora ainda não tenha realizado transações em moeda digital, ele resolveu se antecipar ao que considera uma tendência mundial. "É uma necessidade do mercado que o público em geral ainda não conhece bem, mas é uma tendência. E nós já oferecemos essa possibilidade", diz, ao lamentar não ter feito nenhuma reserva paga com bitcoin até hoje.

Já o médico nefrologista Mário Pontes, entusiasta de moedas digitais, adotou o bitcoin como uma das formas de pagamento, no seu consultório em Fortaleza, há quatro anos. "Ainda não recebi nenhum cliente que pagasse em bitcoin. Adotei a moeda mais para apoiar a causa. Mas se, hoje, chegar alguém com bitcoin, eu recebo". Pontes conta que apenas o fato de aceitar a moeda acabou gerando uma maior visibilidade ao consultório. Entre os estabelecimentos no Estado que aceitam bitcoin também estão escritórios de advocacia, gráficas, clínicas de fisioterapia e veterinárias.

Mapa com número de estabelecimentos que recebem bitcoin no Nordeste

Investimentos

Mesmo com os desafios para que o bitcoin seja usado como meio de pagamento, a moeda digital, que completa 10 anos em janeiro, tornou-se uma opção de investimento ajudando a popularizar outros criptoativos, que hoje já são mais de 2.500. No Brasil, as moedas digitais já rivalizam com o mercado de ações e de títulos públicos, em número de aplicadores. Em 2017, 1% dos brasileiros das classes A, B e C que fizeram investimentos, optaram pelas moedas digitais, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Embora a participação pareça baixa, foi a mesma obtida por aplicações como "ações", "títulos públicos via tesouro direto" e "título de capitalização".

Em 2010 o preço do bitcoin não superou US$ 1, o preço mais alto que ele chegou naquele ano foi de US$ 0,39. E, após atingir a máxima histórica em dezembro de 2017, próximo dos US$ 20 mil, a moeda iniciou 2019 em US$ 3,9 mil.

Inteligência artificial

Assim como outros ativos financeiros, como dólar e ações, as moedas digitais já contam com plataformas de investimentos gerenciadas por robôs que realizam operações de compra e venda baseadas em modelos estatísticos que apontam os melhores momentos para realizar essas operações. "Os robôs têm capacidade de analisar variáveis quantitativas numa velocidade muito maior do que o trader comum, o que faz com que ele seja uma atividade muito eficiente para esse tipo de investimento", diz Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, que, no próximo dia 10, lançará sua plataforma de investimentos em moedas digitais.

Segundo a empresa, a estratégia consiste em analisar tendência do mercado até a tomada de decisões de compra e venda. A operação, que usa inteligência artificial para ter rentabilidade em bitcoin, tem quatro robôs: três deles atuam como traders 24 horas por dia, e um robô faz a coordenação dos traders. O coordenador pode, por exemplo, alterar estratégias e passar novas ordens aos seus comandados, mas fica sob monitoramento dos analistas da empresa.

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