Indústria do Ceará avança em inovação para produzir mais

Ambiente começa a se consolidar nos setores produtivos do Estado, e estímulos vêm da academia e do mercado

Escrito por Redação ,
Legenda: Avanços já reconhecidos por estudo da Fiec indicam que os industriais cearenses conseguiram melhorias significativas em inovação, ambiente interno e conhecimento
Foto: Foto: Saulo Roberto

Em meio a um cenário econômico cambaleante, a indústria cearense começa a avançar rumo à utilização de práticas inovadoras com o intuito de aumentar o nível de produtividade e de competitividade das empresas. Seja para tornar os processos fabris mais eficientes com o uso de sistemas automatizados ou aumentar o valor agregado aos produtos comercializados, um ambiente de inovação começa a se consolidar no Ceará.

É o caso de 15 fabricantes de cosméticos e saneantes do Estado que receberão, neste mês, egressos do curso de Biotecnologia da Universidade Federal do Ceará. A ideia é que os profissionais, após 30 dias de análise dos processos e produtos das empresas, façam um parecer para cada uma delas mostrando como a biotecnologia pode tornar os procedimentos mais eficientes.

"Depois desse diagnóstico, temos um projeto ainda para, no fim deste ano ou no início de 2019, desenvolver produtos mais eficazes, com novas técnicas e maior valor agregado, usando nanotecnologia com esses mesmos profissionais", diz Marcos Soares, presidente do Sindicato das Indústrias Químicas Farmacêuticas e da Destilação e Refinação de Petróleo no Estado do Ceará (Sindquímica - CE).

Ele destaca que a adoção de iniciativas inovadoras pode incrementar o faturamento das empresas em 15% a 20% em um ano. "A nossa expectativa é que as empresas possam desenvolver produtos de maior valor agregado e processos melhorados, contribuindo assim para o aumento do faturamento e da margem de lucro das indústrias do segmento", aponta.

arte
Já o presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Ceará (Sinduscon-CE), André Montenegro, afirma que "a construção civil tem que tirar o atraso, no que tange a parte da inovação". "Só teremos ganho de produtividade se inovarmos e ainda estamos na era da revolução industrial. Ainda estamos muito longe da indústria 4.0", afirmou, apontando para eventos como o Inovaconstruir, que tem início hoje e debate a inovação no setor, como uma das iniciativas de transformar essa realidade

Ele considera ainda que inovar na construção é uma mudança de cultura, masque está mais acessível e vem sendo visto com mais aceitação por diversos segmentos deste setor.

De acordo com a edição mais recente do estudo Bússola da Inovação, produzido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) em 2014 e 2015, o setor está à frente da realidade estadual. Ainda assim, o levantamento constata que existem grandes oportunidades de melhoria, principalmente quando os níveis são comparados com o ideal, e que as empresas do Estado possuem enorme potencial para modificar essa realidade.

Retrato da indústria

Conforme a pesquisa, as indústrias do Ceará apresentaram no período melhores resultados em inovação, ambiente interno e conhecimento. Os resultados desses pilares mostram avanços no estímulo ao empreendedorismo interno; na busca contínua das empresas por informações que possam subsidiar melhorias nos produtos, gestão ou processos produtivos; e na própria prática de inovação.

Entre as empresas que implementaram práticas inovadoras, os efeitos foram expressivos em termos de redução de custo (77% das empresas, das quais 47% de alcance moderado e outras 30% de forte efeito) e de melhoria da qualidade dos produtos, o que fez com que suportassem a pressão do mercado e da concorrência. Houve, ainda, aumento de produtividade e de receita, e melhoria das condições de saúde e trabalho.

Embora tenham apresentado melhores resultados, o gerente do Núcleo de Economia e Estratégia da Fiec, Guilherme Muchale, aponta que o setor produtivo tem mais dificuldade em pesquisa e desenvolvimento, métodos de proteção intelectual (registro de marca, segredos industriais) e interação com atores externos, como a Academia, incubadoras ou parques tecnológicos.

"Apenas 5% de nossas indústrias possuem equipe dedicada à pesquisa e desenvolvimento, somente 22% delas interagem com instituições de suporte à inovação e a falta de uso de ferramentas de propriedade industrial como patentes de invenção demonstram a necessidade de fortalecermos a interação com a Academia e a atração de setores intensivos em tecnologia e inovação", reforça.

Uma nova edição do estudo, relativa aos 2016 e 2017, está sendo produzida pela Fiec e será lançada no próximo ano. As indústrias que desejam avaliar suas práticas de inovação ainda podem participar até o dia 10 de dezembro - ao final do processo, cada empresa receberá seu relatório confidencial com a análise dos 10 pilares da inovação e sugestões de melhoria para cada um deles.

Mobilização industrial

No intuito de consolidar um ecossistema de inovação no Estado, o presidente da Fiec, Beto Studart, lança amanhã (5) a Mobilização Industrial pela Inovação (M2I) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae/CE). De acordo com o presidente do conselho temático de inovação e tecnologia da Fiec, Sampaio Filho, a ideia é que o Estado seja referência em inovação no Nordeste.

Entre os avanços já conquistados pelo segmento, Sampaio, que também é presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico no Ceará (Simec), cita o maior volume de recursos aplicados nos editais de inovação para o Estado. Neste ano, o edital Funcap - Inovafit Fase 2/2018 destina R$ 10 milhões para projetos de desenvolvimento de produtos e processos inovadores em áreas prioritárias para o Ceará.

"Após constatado pelo estudo essa falta de interação com atores externos, o setor fechou com a Academia e conseguimos desenvolver projetos, inclusive com datas fixas para o lançamento de editais", aponta o presidente. O instrumento serve como estímulo para a colaboração entre o setor empresarial e a pesquisa científica para aumentar a produtividade das empresas, beneficiando a economia local.

Mas Sampaio argumenta que este é apenas um passo inicial para estabelecer um ecossistema de inovação no Estado. "Temos que fortalecer a rede de núcleos de inovação tecnológica, trazermos grandes centros de pesquisa e inovação para o Estado, avançarmos na indústria 4.0, realidade aumentada. Temos que ter persistência para nos tornarmos referência na região Nordeste", destaca.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.