Guerra comercial entre EUA e China deve afetar Brasil

Nova tarifa chinesa atingirá mais de 5 mil produtos dos Estados Unidos, que giram cerca de US$ 60 bilhões

Escrito por Redação ,
Legenda: Para especialistas, a aplicação das tarifas deixa tenso o clima do mercado em todo o mundo, afetando as relações comerciais do Brasil e do Ceará
Foto: Foto: José Leomar

São Paulo/Fortaleza. A China decidiu retaliar os Estados Unidos após o governo de Donald Trump anunciar sobretaxas para mais US$ 200 bilhões em importações do país asiático. Nessa terça-feira (18), Pequim anunciou a imposição de sobretaxas contra o equivalente a US$ 60 bilhões de importações em produtos estadunidenses. As tarifas serão de 5% e 10%, em vez de até 25%, taxa que fora proposta anteriormente. A iniciativa fortalece o temor de uma guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, o que pode ter reflexos negativos para as economias de diversos países, incluindo o Brasil, onde estados como o Ceará podem ser afetados.

As medidas irão afetar 5.207 produtos dos Estados Unidos. A lista inclui desde gás natural liquefeito e minérios até café e vários tipos de óleos comestíveis, vegetais congelados, pó de cacau e químicos, entre outros.

Em comunicado, o Ministério das Finanças chinês afirmou que, se os EUA continuarem a impor ainda mais sobretaxas contra Pequim, a China irá contra-atacar. "A China é forçada a responder ao unilateralismo e ao protecionismo comercial dos EUA, e não tem escolha senão responder com suas próprias tarifas", disse o ministério.

As sobretaxas anunciadas ontem entrarão em vigor na próxima segunda (24), mesmo dia em que as tarifas dos EUA passarão a valer. A diferença em relação às sobretaxas anteriores que o governo Trump já havia anunciado é que a nova medida irá afetar consumidores diretamente, e bem às vésperas da temporada de compras de fim de ano.

No caso dos EUA, as tarifas serão de 10% até 1º de janeiro, quando aumentarão para 25%. A lista do USTR (Departamento de Comércio dos Estados Unidos) inclui desde frutos do mar até produtos eletrônicos, móveis e materiais de construção.

A China havia anunciado mais cedo, na terça, que poderia retaliar os EUA. Em resposta, Trump, ameaçou adotar um novo ataque contra a China se Pequim atingisse os trabalhadores agrícolas ou industriais americanos e acusou os asiáticos de tentar influenciar a eleição dos EUA para prejudicar agricultores, que ajudaram a elegê-lo.

Trump disse que a China está tentando usar o comércio para prejudicá-lo com seus apoiadores antes das eleições parlamentares, em 6 de novembro. "A China declarou abertamente que está ativamente tentando impactar e mudar nossa eleição, atacando nossos agricultores, fazendeiros e trabalhadores industriais por causa de sua lealdade a mim", escreveu Trump. Não ficou claro sobre qual declaração de Pequim o Trump estava se referindo em suas publicações. "Haverá uma grande e rápida retaliação econômica contra a China se nossos agricultores, pecuaristas e/ou trabalhadores industriais forem prejudicados!".

Donald Trump foi questionado se as tarifas realmente estão ajudando a economia, uma vez que o déficit comercial dos EUA aumentou US$ 7 bilhões entre maio e julho. O presidente respondeu que as tarifas "estão, sim, indo muito bem e estamos apenas começando".

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Estratégia

Para o economista Alcântara Macedo, Donald Trump tem na provocação aos chineses uma estratégia para angariar votos ao seu partido, nas próximas eleições parlamentares. "Trump tem uma visão imediata da estratégia de comércio internacional. Parece que ele quer fazer fita para o eleitorado dele. Então, fica fazendo sobretaxas, sem dar realmente respaldado em estudo de vantagens comparativos, ou seja, do ganha-ganha. Uma sobretaxa entre economias desse tamanho tem que ser analisada do ganha-ganha, pois se for do ganha-perde, você vai ter a volta, para poder justificar para as pessoas que estão do lado afetado", destacou.

"Fazer o que Trump faz, só para benefícios da própria economia, em detrimento de estratégias geopolíticas, no longo prazo pode não ser um bom negócio. De qualquer maneira, essa guerra prejudica a todos", disse.

Opinião do especialista 

Efeitos negativos serão sentidos no mundo inteiro

Karina Frota - Gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec)

Há a ameaça cada vez mais visível de uma guerra comercial envolvendo as duas economias, ou seja, uma guerra comercial bilateral. É uma guerra em que não temos vencedores. Tem efeitos negativos para o Brasil e para o Ceará. Nem entro na questão do que importamos ou exportamos, mas como se sabe, os EUA são nossos principais parceiros comerciais, respondendo por mais de 25% de toda mercadoria que o Ceará vende para o mundo. No que se refere às restrições comerciais, isso respinga nas sobretaxas, nas retaliações, como vimos o que a China aplicou. E isso é negativo não apenas para o Ceará, mas para o mundo de uma maneira geral. Isso enfraquece o comércio global, prejudica as relações comerciais.

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