Fruticultores do CE pedem plano e dessalinização

Atualmente, a atividade no Estado depende das chuvas para recarga dos grandes açudes

Escrito por Egídio Serpa* - Colunista ,
Legenda: A pluviometria deste ano não será suficiente para recarregar os maiores açudes do Ceará, impactando a agricultura irrigada no Estado
Foto: FOTO: BRUNO GOMES

Berlim (Alemanha). Fruticultores cearenses que participaram da Fruit Logistica 2018, encerrada nessa sexta-feira, retornam neste sábado a Fortaleza carregando na bagagem uma certeza e várias dúvidas. A certeza embala os bons negócios fechados nos três dias de reuniões e conversas com importadores europeus, que renovaram as relações e os contratos de compra e venda, principalmente de melão. Mas a dúvida é sobre o futuro da fruticultura do Ceará, totalmente dependente das chuvas para a recarga dos grandes açudes do Estado.

Quinta-feira, durante um jantar de confraternização, os produtores exportadores de frutas fizeram uma análise crítica da posição do Governo do Estado, que, mesmo sabendo que a pluviometria deste ano não será capaz de recarregar o Castanhão, o Orós, o Banabuiú e o Araras, retardou as providências para viabilizar o projeto de dessalinização da água do mar.

"A dessalinização é necessária e urgente, porque ela ajudará a reduzir a vazão do Eixão das Águas para o consumo da população da Região Metropolitana de Fortaleza e de seu parque industrial" - comentou um dos presentes ao jantar. Outro preferiu abordar a questão social, lembrando que a agricultura irrigada - destacadamente a fruticultura - emprega mais gente do que a maioria das indústrias de Fortaleza. Um terceiro empresário recordou que há dois anos, por falta de água, uma grande empresa do setor transferiu-se para outro estado, levando para lá os 1.500 empregos que mantinha no Ceará.

Planejamento

Na unânime opinião desse grupo de agricultores, falta um plano estratégico para a agricultura cearense. "Não tem sentido, neste Século XXI de alta tecnologia, que o Governo do Ceará ainda permita o uso da água dos açudes para a produção de arroz por inundação. É um desperdício. E o mais grave é a falta de fiscalização para impedir que essa insignificante rizicultura - que gera quase nenhum emprego - se mantenha", afirmou um fruticultor. Foi servida como sobremesa do jantar a informação de que a Adece está finalizando um programa que definirá "Indicadores e Critérios para o Uso da Água na Agropecuária". A ideia da Diretoria de Agronegócio da Adece, articulada com a Secretaria de Recursos Hídricos, é estabelecer um parâmetro para a outorga da água às atividades econômicas no campo.

A outorga será proporcional ao número de empregos e à geração de renda que a atividade do outorgado - pessoa física ou jurídica - gerará. "A tecnologia da irrigação avançou muito. Hoje, produz-se, no Ceará e no Nordeste, mais alimentos com menos água", disse outro agricultor.

Ele ainda comentou: "Há sete anos, a natureza tem reduzido as chuvas no Ceará. Ao longo desse tempo, o Governo não se mexeu, deixando para fazê-lo agora, quando não há mais água nos açudes e muito pouca no subsolo. Israel produz agricultura de alta qualidade, usando a água marinha dessalinizada. Na Califórnia, também. No Ceará - dependente das chuvas -, isso já deveria estar sendo feito".

*O colunista viajou a Berlim a convite da Fruit Logistica

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