Esburacadas, estradas trazem prejuízo ao CE

Relação foi constatada na Ceasa, onde o quilo do tomate custa R$ 4,40, mas poderia ser R$ 0,30 mais barato se não fossem os custos a mais com transporte

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br

As condições precárias das rodovias quer percorrem o Ceará estão impactando negativamente no bolso dos consumidores. Levantamento divulgado ontem (17) pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou que 72,4% (2.590 km) das estradas do Estado têm problemas de pavimentação, sinalização e geometria das vias.

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Para especialistas, o efeito imediato disso é o aumento do custo do frete, afetando os preços de produtos ao consumidor. Segundo Odálio Girão, analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), há um acréscimo de pelo menos R$ 0,30 por quilo de hortaliça transportada no Ceará.

"As regiões Sul e da Ibiapaba, que são as mais distantes da Capital, são as mais afetadas. Há um impacto nos preços dos produtos, como a banana, alface, pimentão, coentro, cebolinha, pepino, repolho, entre outros. O tomate, por exemplo, poderia ser vendido a R$ 4,10 o quilo, enquanto que é vendido a R$ 4,40. De toda forma afeta o atacadista e consequentemente o consumidor", analisa, apontando a carestia de 6,81% no produto.

Para Nidovando Pinheiro, vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), a realidade atual das estradas do Ceará influencia no valor do transporte dos produtos.

"Os carros se quebram e esse custo acaba sendo incluído no preço da mercadoria. Esse repasse é inevitável para o consumidor. Hoje, um frete é aproximadamente 15% do valor da mercadoria, mas isso depende da carga que está sendo transportada e do local de onde e para onde ela vai", explica Pinheiro.

'Impacto violento'

Heitor Studart, presidente da Câmara Temática Logística (CTLog) e do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), diz que o impacto das condições precárias das rodovias cearenses é "violento" para a economia estadual. "Nossas importações e exportações estão seriamente prejudicadas pela situação do modal rodoviário. As indústrias estão deixando de se instalar aqui por causa da má trafegabilidade dos principais eixos estruturantes do Estado".

Segundo ele, um estudo de projeto integrado está sendo elaborado pela Fiec em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) para propor um plano para os modais no Nordeste, em particular do Ceará. "Nós estamos levantando os custos, soluções jurídicas, modelagens e viabilidade técnica e econômica. O que nós temos de prioritário são os modais rodoviário, portuário, ferroviário e o transporte de carga aéreo. Nós estamos estruturando esses quatro eixos e selecionando as prioridades de curto, médio e longo prazos", detalhou.

Studart também afirma que o frete está 30% mais caro em função do precário estado de conservação das estradas cearenses. "O principal gargalo hoje é o Anel Viário que é o principal eixo de importação e exportação do Estado. Tudo se interliga nessa importante artéria e a gente ainda não viu a conclusão dessa obra", afirma. Como alternativa para solucionar o problema, o presidente da CTLog e da Coinfra diz que a concessão à iniciativa privada é a única maneira de melhorar a infraestrutura rodoviária.

"Com a crise econômica e fiscal do País, a única solução viável é trazer o capital privado para viabilizar a demanda que o mercado produtor, e o mercado externo exige para o Brasil. Não tem outra maneira. Mesmo que se façam as reformas necessárias ainda sim fica inviável e insustentável a capacidade de investimento do estado".

Varejo mais afetado

O varejo é o setor mais afetado pelas condições precárias das estradas cearenses. É o que afirma o presidente da Associação de Gestores e Executivos em Logística do Estado do Ceará (Agel), Célio Fialho. "Para o varejo é mais complicado porque é aquele produto que a gente compra rápido, no dia a dia. A gente sente logo na base o preço dos produtos. A questão da indústria é menos impactante, porém não menos importante", acrescenta.

Segundo ele, o prejuízo fundamental é esse aumento no valor dos produtos porque há um vínculo mais forte com a questão do frete. "O frete é a composição do preço de qualquer produto ou serviço. Só que o frete em si fica com a margem mais alta por causa da precariedade das estradas. Então, os caminhões precisam de uma manutenção maior e isso com certeza vai ser repassado para o consumidor", diz. Fialho afirma ainda que não adianta haver grandes investimentos em portos e aeroportos se o produto não consegue chegar até esses equipamentos. "O nosso Estado, embora tenha grandes investimentos, vai ficar carente por causa dessa intermodalidade. Você vai levar a mercadoria por avião, mas para chegar ao aeroporto nós precisamos ter estradas".

Levantamento

Conforme a CNT, são necessários investimentos de R$ 1,35 bilhão para ações emergenciais de reconstrução e restauração das vias cearenses. Para a manutenção dos trechos desgastados, o custo estimado é de R$ 585,82 milhões. Ainda segundo o órgão, apenas 27,6% (991 km) das estradas obtiveram classificação ótima ou boa no Estado.

Investimentos estaduais

Contatado, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) informou que o programa "Ceará de Ponta a Ponta deve investir cerca de R$ 2,8 bilhões na melhoria mais de 3 mil km de rodovias em todas as regiões do Estado" até o fim de 2018.

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