Empresas cearenses abrem capital e se fortalecem para expandir
A estreia da holding de educação do Ceará levou à comercialização de 23% da empresa. As ações subiram 34,2% a US$ 23,50
O preço inicial estabelecido para a primeira oferta foi de US$ 17,50, mas já nas primeiras horas de pregão, o papel chegou a ser cotado a US$ 25,59, alta de 46%, refletindo as expectativas dos investidores sobre os resultados futuros da companhia. Com a oferta de 11,11 milhões de ações, correspondente a cerca de 23% do capital da empresa, o IPO levou o Grupo a um valor de mercado de US$ 1,2 bilhão. As ações encerraram o pregão com valorização de 34,29%, a US$ 23,50.
As outras empresas cearenses negociadas na bolsa de valores de São Paulo, a B3, são Hapvida, com valor de mercado de R$ 14,6 bilhões, M. Dias Branco (R$ 13,3 bilhões), e Enel Distribuição Ceará (R$ 3,2 bilhões).
Outra empresa cearense cujo IPO já é esperado há alguns anos é a rede de farmácias Pague Menos, que desde 2015 tem participação do fundo norte-americano General Atlantic, o mesmo que investiu no SAS, em 2014. O fundo investiu R$ 600 milhões na Pague Menos e, segundo a empresa, os planos de realizar oferta inicial de ações está mantido, porém sem prazo definido. “Nesse momento, a rede está focada na concretização de seu plano estratégico, atingimento das metas para a valorização da companhia”, disse em nota.
O CEO da Arco, Ari de Sá Neto, detalha que a escolha da Nasdaq em detrimento da Bolsa brasileira para estrear no mercado de ações está ligada à participação do fundo norte-americano. “Desde o início já pensávamos em entrar na Nasdaq. O IPO é uma evolução daquele passo lá atrás (entrada do fundo dos EUA). A gente fica ao lado de investidores de muita qualidade, além do recurso propriamente dito que a gente é capaz de captar”, explica o executivo do Grupo.
Geraldo Gadelha, vice-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) Nordeste, avalia que a iniciativa da Arco representa um marco interessante. “O mercado de capitais gera um profissionalismo que melhora inclusive a sucessão da empresa. O M. Dias Branco, por exemplo, é uma história bem sucedida de lançamento de ações e o Hapvida se transformou em um case de sucesso fantástico”, detalha.
Gadelha frisa que há vantagens e desvantagens em optar pelo IPO. “Há uma porção de obrigações, a empresa tem que ser mais transparente, ser auditada, prestar informações trimestrais à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mas se tem uma estabilidade de capital, a empresa não tem que correr a banco cada vez que precisar. Esse colchão financeiro permite o planejamento da empresa”, arremata.
Para Geraldo Luciano Mattos Júnior, vice-presidente de Investimentos e Controladoria do Grupo M. Dias Branco, a experiência do Grupo como empresa de capital aberto desde 2006 vem sendo positiva em todos os aspectos. “A empresa nesse período cresceu bastante, teve um desempenho muito acelerado e isso, em parte, se deve à condição de mercado aberto, porque a empresa é bem mais exigida, mais cobrada. (Abrir o capital) fez com que ela crescesse mais e melhorasse a qualidade dos processos”.
Captação
De acordo com o economista Ricardo Eleutério, ainda são poucas as empresas que utilizam a alternativa do mercado acionário para captar recursos. “Quando a empresa abre o capital, esse recurso da venda das ações não se traduz em endividamento para ela. O acionista é remunerado de acordo com os resultados”, pontua.
Ele pondera que somente cerca de 500 mil brasileiros investem em ações, dos quais em torno de 7 mil do Ceará, o que revela o potencial de crescimento nesse segmento. “Há poucas empresas de capital aberto no Brasil a tomar recursos dessa forma”.
Recursos
No País, é mais comum que as empresas se voltem aos bancos públicos. Muitas ainda dependem desses recursos para financiamentos e, ainda que tenha baixado no último ano, a taxa de juros no Brasil ainda é uma das maiores do mundo. “É imprescindível um mercado de capitais bem desenvolvido”, pontua Ricardo Eleutério.
A iniciativa do Grupo Arco de ir para a Bolsa de Nova York em vez de São Paulo, na avaliação de Eleutério, é um passo mais ousado. “O Grupo vai para um mercado de capitais maior e em um país onde vai ter mais visibilidade. Lá se movimenta um volume maior de recursos, e que é mais regulamentado. É um ganho a mais”, acrescenta Ricardo Eleutério.
O IPO do Grupo Arco teve a coordenação dos bancos Goldman Sachs, Morgan Stanley, Itaú BBA, Bank of America Merrill Lynch, BTG Pactual, UBS e Allen&Co.