Egídio Serpa: É proibido gastar

Escrito por Redação ,

Em janeiro de 1985, o então eleito presidente Tancredo Neves disse, numa entrevista à imprensa, que assinaria, no dia de sua posse, um decreto com um único artigo: "É proibido gastar". No dia 14 de março daquele ano, véspera da posse, Tancredo foi internado às pressas no Hospital de Base de Brasília para uma cirurgia de diverticulite. Ele morreria alguns dias depois. No seu lugar, assumiu o vice José Sarney, em cujo governo a inflação chegou a 80% ao mês e os gastos dispararam. Trinta e três anos depois, no domingo passado, 28, ainda celebrando a vitória de Jair Bolsonaro, eleito presidente da República, seu futuro ministro da Fazenda, economista Paulo Guedes, parafraseou Tancredo: "Vamos controlar o gasto público. O foco do programa é o controle dos gastos públicos", disse ele a uma pequena multidão de jornalistas nacionais e estrangeiros. Como na prática a teoria é diferente, aguarda-se a divulgação desse programa, que por enquanto são promessas que alegram o mercado e deixam no ar um conjunto de especulações. Guedes garante que não haverá aumento de impostos, mas a substituição de oito tributos por um só. Há a promessa de desburocratizar o serviço público para facilitar a vida de quem produz e trabalha. Como e quando isso será feito, também não se sabe ainda. Paulo Guedes confirma: o que puder ser privatizado se-lo-á. Mas ele não esconde sua vontade de privatizar o máximo de estatais possível para fazer caixa e reduzir a dívida, que consome, por ano, US$ 100 bilhões só de juros. É algo semelhante ao que foi gasto na reconstrução da Europa, após a II Guerra. "Reconstruímos uma Europa por ano só com juros", resumiu ele. São boas as intenções do futuro chefão da economia, mas é preciso, antes, combinar com os russos. E os russos são os deputados e senadores que compõem o Congresso Nacional, onde as propostas do presidente eleito terão de ser apreciadas, votadas e (ou não) aprovadas. Esses russos, que costumam chantagear o Governo - seja qual for - causam sempre prejuízo ao Tesouro.

Fica ou sai

Há alguma chance de o atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, seguir no cargo no governo Bolsonaro? Esta pergunta causou um debate, ontem, durante um encontro de empresários cearenses da agropecuária. Esta coluna pode informar que, em Brasília, há um movimento nesse sentido. A chance de êxito é pequena, mas o presidente eleito já disse que nomeará quem o setor do agronegócio indicar. A propósito: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) será mantido sem acréscimo. Aquela ideia de juntá-lo ao do Meio Ambiente foi rejeitada.

São Francisco

Estão chegando o fim do ano e também o fim da água nos açudes que abastecem Fortaleza e sua Região Metropolitana. Enquanto isso, avançam na velocidade do Governo Federal as obras de construção do Canal Norte do Projeto S. Francisco de Integração de Bacias, cuja conclusão foi prometida para o início deste ano, depois transferida para agosto, em seguida para este outubro e agora outra vez mudada para dezembro. Esta coluna mantém sua previsão: as águas do Rio São Francisco só chegarão ao seu destino final, o açude Castanhão, no fim de março do próximo ano, e se o futuro Governo Bolsonaro não decidir paralisar os serviços para conter os gastos.

IV Anel Viário

Informa o secretário de Infraestrutura do Governo do Ceará, engenheiro Lúcio Gomes: prosseguem normalmente os trabalhos de duplicação do IV Anel Viário de Fortaleza - que tem 32 quilômetros de extensão na pista norte e outros 32 na pista sul. Na semana passada, os operários da obra, revoltados com o atraso do pagamento dos seus salários por parte do consórcio construtor, cruzaram os braços, paralisando seus trabalhos. O pagamento já foi feito, e a obra avança, principalmente na construção dos viadutos que cruzam as estradas estaduais.

A vida segue

Empresários cearenses já procuram o senador Eduardo Girão e os deputados federais capitão Wagner e Heitor Freire que integram a força tarefa de Bolsonaro no Congresso Nacional. É assim que se move a política.

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