Dólar sobe mais de 2% com guerra comercial

Imposição de tarifas aos chineses e a ameaça de retaliação aos EUA deixaram os mercados mundiais nervosos

Escrito por Redação ,
Legenda: A moeda americana fechou a sessão de ontem cotada a R$ 3,882, um dia depois de fechar abaixo dos R$ 3,80 pela primeira vez em duas semanas

São Paulo. O anúncio de que os Estados Unidos vão impor novas tarifas a produtos chineses e a ameaça de retaliação por Pequim puseram fim aos dias de relativa calmaria do mercado financeiro. O dólar avançou sobre as principais moedas, e as Bolsas mundiais fecharam em queda nessa quarta-feira (11).

O dia pode ser bem descrito como de aversão de investidores ao risco, quando eles preferem comprar dólares a manter aplicações em ativos considerados mais arriscados, como moedas de países emergentes ou investimentos em Bolsas de Valores. Isso apenas um dia depois de relatos de que a disputa entre as duas maiores economias do mundo já não parecia tão grave.

Na última terça-feira (10), após o fechamento do mercado, os Estados Unidos anunciaram tarifas sobre mais US$ 200 bilhões em produtos importados da China, menos de uma semana depois de colocar em vigor a sobretaxa sobre US$ 34 bilhões em itens importados do país.

"Difícil prever o desfecho dessas tensões, mas acreditamos que há uma perda de dinamismo global, fluxos de capitais menos intensos, com correção de preços dos ativos e uma possível 'guerra cambial'. Efeito sobre confiança e decisões de investimentos também tende a ser negativo", escreveu a equipe de economistas do banco Bradesco em relatório.

Na sessão de ontem na Bolsa de Valores de São Paulo, o dólar avançou mais de 2% e fechou a R$ 3,882 um dia depois de fechar abaixo dos R$ 3,80 pela primeira vez em duas semanas.

Com a pressão para a alta da moeda vinda do exterior, o Banco Central ficou novamente de fora do mercado de câmbio, marcando o 13º dia seguido sem ofertas extraordinárias de novos contratos de swap (venda de dólar no mercado futuro). A instituição fez nesta quarta, assim como vem fazendo nos últimos dias, apenas a rolagem de contratos, em operação que somou US$ 700 milhões.

Considerando uma cesta de 24 divisas emergentes, a moeda americana avançou sobre 23 delas. O dólar se valorizou também sobre as 16 principais moedas de todo o planeta.

Mercados mundiais

As Bolsas mundiais amargaram perdas, com as principais baixas na Ásia e na Europa, que fecham mais cedo em comparação com os índices americanos.

O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, cedeu 0,62%, a 74.398 pontos. O volume financeiro somou R$ 9,9 bilhões. As ações da estatal Petrobras pesaram com a queda do preço do petróleo, que sofreu com o desenrolar da guerra comercial e também com a notícia de que a Líbia deve elevar a oferta do produto. O tipo brent (referência internacional) caiu mais de 6% nessa quarta-feira, a US$ 74,01 o barril.

Além do cenário externo, notícias relacionadas a empresas locais também pesaram no índice. A Embraer, que acumula perdas desde que foi anunciado o acordo com a Boeing, sofreu com a decisão da companhia aérea americana Jetblue de jatos da empresa brasileira pelos da concorrente Airbus.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Conflito pode ocasionar alta dos preços no CE

A ameaça de uma guerra comercial bilateral entre as duas maiores economias do mundo (Estados Unidos e China) é uma guerra sem vencedores e tem efeitos negativos para o Brasil e para o Estado do Ceará.

Ameaça de restrições comerciais, sobretaxas e retaliações contra o país asiático, é algo bastante negativo para o mundo.

Pontualmente, com o desvio do comércio entre os dois países, alguns mercados saem temporariamente ganhando, com rápidas oportunidades que surgem. O mundo perde.

O Estado do Ceará pode vir a aumentar a venda de produtos para os Estados Unidos, seu principal parceiro comercial no exterior.

Com o aumento do dólar (frente ao real), as importações cearenses, que no mês de junho de 2018, apresentaram queda de quase 30%, podem vir a ficar ainda mais caras, resultando no aumento de preços para o consumidor.

Karina Frota

Gerente do CNI

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.