Dinheiro acaba antes do fim do mês para 73%

Escrito por Redação ,
Pesquisa mostra ainda que 42% dos entrevistados sofrem com o problema todos os meses

O descontrole com o uso do cartão de crédito é um dos grandes responsáveis pelos gastos acima do orçamento. A falta de dinheiro foi observada mesmo com metade dos entrevistados apontando melhora nos rendimentos FOTO: LUCAS DE MENEZES

Para cerca de 73% dos brasileiros, quando chega o fim do mês, não há mais como gastar: evita-se sair com os amigos, comprar roupas, comer em um restaurante mais caro ou fazer uma viagem de fim de semana. O motivo? Acabou o dinheiro. O alto percentual é resultado de um levantamento feito pelo Instituto Geoc e pela Serasa em todo o País, que entrevistou 1.008 pessoas, entre 20 e 59 anos.

Desses, 42% admitiram sofrer com isso praticamente todos os meses, e os outros 31% responderam "tem mês que falta, tem mês que sobra". Dos restantes, 25% conseguem economizar e 2% preferiram não responder à pesquisa.

Sem surpresas

O economista especializado em finanças pessoais Alexandre Canalini não se surpreendeu com os números. "As pessoas no Brasil não fazem planejamento ou orçamento. Também não sabem usar cartões de crédito. Não há também uma educação financeira nas escolas. Então é normal que elas se enrolem e não consigam chegar no fim do mês com algum dinheiro. Só aprendem a administrar através do erro mesmo", avalia.

O operador de rastreamento Guilherme Gomes, 30, admite fazer parte dessa lista, e que o problema está no consumo compulsivo. "Eu tenho uma filha de cinco anos, mas as despesas que tenho com ela não chegam a ser um problema, mas sim as compras que faço quando tenho dinheiro sobrando. Eu só economizo quando tenho algo em vista, tipo uma viagem ou algo mais caro que pretendo adquirir. Quando não tenho nada mente, tudo o que sobra eu gasto, daí não fica nada no fim", conta.

Para aliviar a situação, ele confessa que adotou a estratégia de colocar o vencimento do cartão para o dia 20. "Assim eu pago a fatura enquanto ainda tenho grana, e depois, no restante do mês, posso usar o cartão se precisar", afirma Gomes, que paga, em média, R$ 500 de cartão de crédito.

Quando cresce a renda

A pesquisa aponta ainda que 52% dos entrevistados afirmaram que suas condições financeiras melhoraram nos últimos dois anos, mas que, mesmo assim, o dinheiro continua curto.

Para Canalini, isso é reflexo de um outro comportamento tradicional do brasileiro: gastar mais do que o aumento de renda que obteve. "O ideal é que você aumente suas despesas menos do que passou a ganhar a mais. Assim, é possível elevar a qualidade de vida sem se endividar e ainda poupando", orienta.

Para quem piorou

Para 44% dos entrevistados pela pesquisa, a melhora financeira foi motivada por promoção ou mudança no emprego e 10% disseram que ingressaram no mercado de trabalho. 

Para 16% das pessoas, a situação piorou, nos últimos 24 meses. As razões apontadas foram a perda de emprego (36%), o descontrole nos gastos da casa (19%) e o aumento no custo de vida (10%). Foram entrevistadas 1.008 pessoas, entre 20 e 59 anos, em todo o País.

38% gastam sem controle algum

De acordo com uma pesquisa realizada pela Boa Vista Serviços, administradora do SCPC, 38% dos consumidores brasileiros não fazem nenhum tipo de controle sobre os gastos e recebimentos do mês.

Para o consultor financeiro do programa Consumidor Consciente, da Master Card, Ricardo Pereira, essa cultura nacional de descuido com as finanças pessoais resulta de uma transformação significativa no cotidiano dos brasileiros.

Resquício da inflação

"Nos anos 1980 e início dos anos 1990, as pessoas no Brasil se acostumaram com inflações que subiam muito de um dia para outro, assim, aprenderam que deveriam gastar todo o dinheiro logo que o recebiam, pois se demorasse os preços iriam aumentar bastante. Hoje, mesmo com uma situação econômica mais confortável, os filhos, ou seja, a geração atual, aprenderam a lidar com isso da mesma maneira", explica.

Falta amadurecer

Outro fator preponderante apontado por Ricardo Pereira é a chamada ascensão da nova classe C, a camada emergente da sociedade brasileira.

Para ele, esse perfil de consumidor é composto principalmente por pessoas que, até meados dos anos 2000, tinham pouco ou nenhum acesso a bens materiais mais caros, como o automóvel, por exemplo; e, desta forma, ainda não amadureceram o suficiente para fazer o controle ideal de suas despesas.

Novo aprendizado

"Comprar um carro hoje está muito mais fácil. Isto fica claro quando percebemos que cidades brasileiras que nem sequer figuravam entre as maiores do País estão agora sofrendo com engarrafamentos. Esse fenômeno é fruto de uma sociedade que tem acesso fácil ao crédito, mas ainda não sabe lidar com ele", conta o consultor financeiro, reforçando a necessidade de um maior aprendizado do consumidor no País.

Educação financeira

Apesar disso, o consultor financeiro mostra-se otimista com a disposição que os consumidores estão demonstrando em aprender a se planejar melhor. Um exemplo disso é a grande demanda que o programa de educação financeira do qual faz parte tem recebido. Laércio de Oliveira Pinto, da Serasa Experian, resume bem que tipo de comportamento o consumidor brasileiro deve assumir. "O ideal é fazer um diagnóstico preciso das contas, desde as despesas com alimentação, passeios de fim de semana, escola, prestação de carro, cinema e até os possíveis imprevistos, e só então comprometer o que sobrar", orienta.

NÃO FIQUE NO VERMELHO

1. Faça o levantamento das dívidas, anote tudo: valores, parcelas, prazos de pagamento, nomes em possíveis negociações etc;

2. Após o levantamento, busque um contato direto com os credores e renegocie as dívidas;

3. Quite as contas com juros maiores, como cartão de crédito, e de serviços essenciais, como água, luz, aluguel, condomínio etc;

4. Evite entrar no cheque especial e pagar o mínimo do cartão, pois essas dívidas possuem juros altos;

5. Consuma com planejamento e consciência, respeite seu dinheiro e valorize suas conquistas.

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