Cenário econômico fica mais turvo no 2º semestre

Greve dos caminhoneiros, que paralisou o País por 11 dias, trouxe ainda mais incertezas para o cenário econômico do País, que ainda enfrenta turbulências políticas

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,
As tendências da macroeconomia para o segundo semestre já eram difíceis de prever, mas o turbilhão pelo qual o Brasil passa em decorrência dos reflexos do protesto dos caminhoneiros contra o aumento sobre os preços do diesel jogou ainda mais incertezas e pessimismo sobre o futuro do País, cujo ambiente econômico segue impactado fortemente pela indefinição eleitoral e pela instabilidade do câmbio, entre outros fatores. 

Depois de os resultados do primeiro semestre frustrarem as expectativas do mercado, que previa uma recuperação do nível de investimentos maior do que de fato aconteceu, o segundo semestre parece trilhar o mesmo caminho: melhor que no ano passado, mas não tão bom quanto se esperava. O próprio governo já havia reduzido, no último dia 22, a previsão de crescimento da economia brasileira neste ano de 2,97% para 2,5%. 

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Mas há fatores positivos a serem considerados, como a tendência de crescimento e o aquecimento econômico sazonal do segundo semestre, impulsionado pelo 13º salário e pelas festas de fim de ano. Aqui, o Ceará se destaca no cenário nacional por estar com um caixa equilibrado, realizando investimentos e ter, no segundo semestre, a concretização de investimentos privados, como as obras do Aeroporto e incremento no número de voos. 

Voo de galinha 

Segundo o economista Alex Araújo, a reação da economia no primeiro semestre está sendo considerada por muitos um “voo de galinha”, que dá um salto e depois cai. “Havia uma expectativa muito grande de que o crescimento fosse retomado, mas a realidade foi pior que o projetado. A expectativa de empresários e consumidores começou o ano positiva e por volta de março a abril, caiu, e a taxa de desemprego aumentou”, aponta. 

O cenário mostra que a economia não está no ritmo que se esperava, o que, na avaliação de Araújo, se dá em parte por conta da indefinição do quadro nacional das eleições para a presidência e parte pela influência do cenário externo, como a forte correção do dólar e o aumento dos preços das commodities, em particular do petróleo. “Há uma eleição geral que vai ser de suma importância para se saber qual será a agenda do próximo governo”, reforça. 

O economista avalia ainda que os desdobramentos da movimentação dos caminhoneiros, entre os quais o desabastecimento de insumos às indústrias, prejuízos do setor produtivo e a própria solução oferecida pelo governo, aprofundam o pessimismo quanto aos resultados da economia brasileira neste ano “(A situação) afeta muito tanto a disposição dos consumidores em comprar, quanto dos produtores em investir”. 

Com um grande leque de candidatos e incertezas sobre quem tem mais chances de vencer – bem como da agenda econômica defendida por eles -, a tendência é que os empresários freiem o nível de investimento no País até que se tenham mais definições. “Há uma agenda de economia a ser tratada que envolve a organização das receitas e despesas públicas e precisamos saber como isso será tratado por quem for assumir a presidência”. 

Banho-maria 

Na avaliação de Araújo, esse quadro de incertezas – que em muito agita os indicadores de confiança – deve permanecer até que se tenha um quadro mais claro quanto ao resultado das eleições. “Por enquanto, é possível que a economia fique em banho-maria, o que nos faz ficar muito vulneráveis, como vimos há pouco tempo no caso do aumento do dólar”, relembra. 

O entendimento é endossado pelo economista Ricardo Eleutério, que avalia que o ano “já acabou” em termos de política fiscal para reduzir o déficit. “As reformas foram engavetadas, como a da Previdência, e as microeconômicas que estavam sendo feitas não têm mais condições. Até o resto do ano, vai se ter um arranjo ou outro, como o que foi feito agora, para apagar incêndio, mas não tem ajuste. Estamos remando um pouco à deriva”, detalha. 

Ele aponta que as medidas tomadas pelo governo para atender os caminhoneiros, assim como outras que ainda possam surgir pelo caminho em caráter de emergência terminam por agravar ainda mais o problema do desequilíbrio econômico no País. “A herança fiscal do próximo governo vai ser maior ainda, o problema vai se acumulando”, lamenta Eleutério. 

Para que realmente se tenha um crescimento sustentável no País, e não mais “voos de galinha”, o economista reforça que é necessário mais investimento produtivo, que, por sua vez, está apoiado sobre as expectativas. “Para ter uma retomada dos investimentos é preciso aumentar a confiança e melhorar as expectativas. Possivelmente, vamos ficar em um banho-maria, nesse ambiente morno, até o fim do ano”, prevê.

Opinião do especialista

Apesar cenário nacional em turbulência, com a recente greve dos caminhoneiros e do período eleitoral cercado de incertezas, acredito que a economia apresentará crescimento moderado no 2º semestre.

Neste período, certamente, em razão do forte embate político, haverá oscilações relevantes em variáveis econômicas, a exemplo do dólar, contudo a atividade econômica deverá manter tendência de alta, porém, abaixo das expectativas econômicas traçadas no início do ano.

O mercado de trabalho será impactado positivamente, mas também muito aquém do necessário, especialmente pelo grande contingente de trabalhadores em situação de desemprego.

No contexto externo, tensões geopolíticas e a política monetária dos Estados Unidos, poderão ser outra "pedra no sapato" da economia no 2º semestre. A elevação da taxa de câmbio, em resposta a subida da taxa de juros americana, e o preço do barril de petróleo em alta volatilidade, serão elementos altamente prováveis no cenário futuro.

Neste sentido, decisões internas, sob a ótica cambial e monetária, deverão ser utilizadas para mitigar seus efeitos internos, sobretudo para evitar a alta da inflação.

Alisson Martins
Economista

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