Cearense ainda investe pouco em previdência privada

Montante aplicado pelos investidores do Estado representa apenas 2,3% do total registrado no Brasil

Escrito por Samuel Quintela - Repórter ,

Com o sistema previdenciário público brasileiro beirando um rombo de R$ 300 bilhões e na pauta permanente das reformas estruturais, analistas reforçam a necessidade dos produtos privados de poupança, abertos ou fechados, como opção para quem busca tranquilidade financeira na terceira idade. Mesmo considerando o cenário, apontado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que até 2060, um a cada quatro brasileiros será considerado idoso, os aportes realizados, no primeiro semestre de 2018 em planos de previdência privada aberta no Ceará representam apenas 2,3% dos investimentos totais do Brasil. Dos R$ 51,42 bilhões registrados pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), em novos aportes nos planos de previdência privada aberta - gerenciados por instituições financeiras, como os bancos -, apenas R$ 1,83 bilhão é referente ao Ceará.

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Já no mercado de previdência complementar fechada, no qual a administração é feita por fundos de pensão voltados a classes laborais, por exemplo, cinco instituições acumulam, no Estado, R$ 6,38 bilhões em ativos. No País, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), os investimentos totais são do patamar de R$ 810,89 bilhões.

Para o economista Alex Araújo, os números no Ceará para a previdência privada estão dentro da realidade estadual, considerando a fatia de participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que se mantém no mesmo patamar. No entanto, o economista afirma que o cenário de incertezas do sistema previdenciário público, a médio e longo prazo, deveria ter alertado as pessoas a procurarem outras alternativas para não dependerem apenas dos benefícios públicos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

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"Esses números estão bem alinhados com a expressão econômica do Ceará, já que o PIB do Estado representa mais ou menos isso na participação nacional, mas ainda é baixo porque a gente sempre espera que as pessoas deverão buscar uma cobertura previdenciária maior, até pela situação do sistema brasileiro atualmente", avaliou Araújo.

O economista ainda ponderou que o número de investimentos deve estar crescendo no Estado, considerando a evolução do mercado como um todo, com produtos mais elaborados sendo apresentados pelas instituições gestoras. "É provável que esse número tenha crescido, de fato, até porque a previdência aberta traz ganhos tributários muito grandes, mas é difícil ter a noção precisa, pois isso é um segredo guardado pelas instituições financeiras", disse.

Espaço para evoluir

Em âmbito nacional, o estoque de reservas já existentes dos planos de previdência aberta, no primeiro semestre de 2018, teve uma alta de 13,1%, passando de R$ 696,42 bilhões, em igual período do ano passado, para R$ 787,83 bilhões. E é pensando em explorar esse vácuo no mercado, com pessoas que ainda não investem em previdência privada, aberta ou fechada, que o presidente da Abrapp, Luís Ricardo Marcondes Martins anunciou iniciativas para modernizar os planos de previdência complementar fechada e alcançar um número maior de investidores. Entre as possibilidades, está o desenvolvimento dos planos setoriais, voltados para a entrada de familiares dos participantes, e uma modalidade destinada a jovens que possibilitaria a retirada de valores para objetivos pré-determinados, como viagens.

"O mercado de previdência complementar tem uma demanda reprimida, e os planos abertos e fechados têm suas particularidades, mas eu acho que a população brasileira tem uma grande janela para entrada de pessoas no mercado de previdência fechada, principalmente nos planos familiares. Mas, ainda assim, precisamos modernizar os mecanismos para ter mais competitividade", assinalou o presidente da Abrapp.

Conscientização

Mas para que haja essa evolução do mercado privado de previdência, conforme Luís Ricardo, é importante que haja uma maior conscientização sobre o assunto. Segundo dados da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) para o último mês de agosto, apenas 18% dos brasileiros conseguiram poupar dinheiro, mas a previdência privada ficou somente em quinto lugar no ranking de opções da destinação de recursos.

A poupança continua liderando as aplicações, citada por 64% das pessoas. Guardar dinheiro em casa ficou como segunda opção, mencionada por 25%. Em terceiro lugar, aparece a conta corrente (15%); em quarto, os fundos de investimentos (9%); em quinto, mencionada por 7% dos brasileiros, estão os planos de previdência privada.

"Tudo envolve educação previdenciária, tudo é transparência, pois isso é uma renúncia de consumo para um investimento de confiança futura. Mas precisamos ter produtos, não tem espaço para amador", ponderou Luís Ric ardo Marcondes Martins.

Nos cinco primeiros meses deste ano, as entidades que fazem parte da Abrapp apresentaram uma rentabilidade positiva de 2,68%, ficando abaixo da taxa atuarial, de 3,86%.

Em maio, o retorno das carteiras foi negativo (-1,48%), mas a Abrapp espera encerrar o ano com uma rentabilidade de 10,14%, acima da meta atuarial para 2018.

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