Brasil e Ceará costuram alianças para fortalecer setor têxtil

Acordos comerciais com outros países criam melhores condições de importação e ampliam as expectativas de crescimento dos negócios no mercado externo

Escrito por Dháfine Mazza* - Editora assistente ,

Medellín (Colômbia). Em um momento no qual o mercado interno ainda está em recuperação, o comércio exterior é visto por muitas empresas como uma interessante e importante alternativa para manter a competitividade e obter crescimento. E para o setor têxtil do Brasil e também do Ceará - um dos maiores produtores do País - , o ano de 2018 começou com novas oportunidades de estreitar as relações comerciais com outros países e, assim, elevar as exportações. Com o Acordo de Complementação Econômica (ACE) 72, que entrou em vigor em 20 de dezembro de 2017, as tarifas de importação entre os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Colômbia foram zeradas para os setores têxtil, automotivo e siderúrgico, facilitando e ampliando as possibilidades de negócios.

Para a presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado do Ceará (Sinditêxtil), Kelly Whitehurst, o acordo é importante para o setor cearense, uma vez que o mercado colombiano é muito significativo para o Ceará. "É superimportante a gente considerar esse acordo, pois se trata de um canal relevante tanto como recepção como distribuição de produtos do nosso Estado. Temos também de considerar estratégias para que este acordo funcione. Queremos ampliar o mercado", avalia.

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Segundo ela, há um caminho a se traçar no aprimoramento da atuação internacional do Ceará neste setor. "Nós temos empresas cearenses que têm um diferencial de qualidade. Muitas delas estão preparadas para exportar. A vantagem de se tornar internacional é fundamental para o setor", ressalta.

Kelly Whitehurst considera ainda que a moda cearense possui um design criativo, contando com uma nova geração de empresas prontas para qualquer mercado. "Para tanto, nós temos dois eventos de moda que deixam o Ceará visto nacional e internacionalmente. Isso significa também que as indústrias locais deste setor estão dando as mãos e juntando forças para crescer", observa, referindo-se ao Dragão Fashion Brasil e ao Ceará Fashion Trade. "O primeiro evento nos eleva com uma moda conceitual e criativa. Já o Ceará Fashion Trade é uma feira internacional que está na 3ª edição e que atrai olhares de todo o País e do mundo para o Ceará como corredor de compra de moda", acrescenta.

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Ganhos

Os empresários brasileiros, sobretudo do setor têxtil, estão atentos a essas oportunidades e creem que o País pode ganhar muito com o acordo. "O fluxo de comércio entre os dois países é legal, não temos práticas desleais. Temos tudo para crescer juntos. É um fluxo de comércio bastante complementar. Há muito espaço para avançar. Hoje, a Colômbia representa 0,8% do market share do Brasil. Já o Brasil representa 2% na Colômbia. Significa que temos uma imensa oportunidade", ressalta Rafael Cervone, presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

De acordo com ele, atualmente, o Brasil exporta para a Colômbia cerca de US$ 40 milhões por ano, quase o mesmo valor importado do país vizinho. Mas a expectativa é que os números cresçam e que a balança comercial fique mais favorável para o Brasil.

"Em janeiro, as empresas começaram a operar com esse novo sistema. As alíquotas de importação de entrada na Colômbia para fio, tecido e roupa eram, respectivamente, 5%, 10% e 15%. As alíquotas de entrada no Brasil dos mesmos produtos eram 18%, 26% e 35%. Essas taxas já caíram a zero, o que faz uma diferença enorme nas exportações", explica.

A realização do comércio com tarifa zero, contudo, deve seguir a regra de origem: o produto importado deve ser produzido desde o fio no país de origem. A exceção é em caso de escassez de algum item, que pode ser provido por terceiros países.

Otimismo

Para o embaixador do Brasil na Colômbia, Júlio G. Bitelli, o acordo é positivo para os dois países, que estão estreitando cada vez mais o relacionamento. "Temos praticamente um livre comércio com a Colômbia, e isso gera muita expectativa positiva. Os números do comércio entre Brasil e Colômbia são modestos, quando a gente considera que são países vizinhos, com mercados relevantes. A Colômbia vive um momento excepcional com o processo de paz, e isso abre também novas perspectivas. Hoje em dia, o mercado colombiano é prioritário para muitas indústrias brasileiras. Nós temos mais de 60 empresas brasileiras na Colômbia. A tendência é que este número cresça cada vez mais", afirmou durante a 30ª edição da Colombiatex, um dos maiores eventos mundiais do setor, realizada no fim de janeiro, em Medellín.

O Brasil foi convidado de honra da Colombiatex, em uma demonstração de que os empresários colombianos também estão de olhos bem abertos para as oportunidades comerciais no País. "É uma honra para Colombiatex ter o Brasil como país convidado, simbolizando essa grande aliança firmada em 2017 entre o Mercosul e a Colômbia. Depois de muitos anos de tentativas, conseguimos firmar esse acordo. Existem imensas oportunidades para compartilhar, não somente no comércio, mas também na transferência de tecnologia e de conhecimento", afirmou Carlos Eduardo Botero, presidente do Inexmoda, responsável pela Colombiatex.

"Queremos celebrar que, após muitos anos, essas culturas se entendem. Não é só uma relação econômica, mas um reconhecimento cultural", acrescentou o diretor do Laboratório de Investigação e Inovação do Inexmoda, Lorenzo Velásquez Velez, ressaltando que, hoje, o Brasil está em quarto lugar entre os parceiros comerciais da Colômbia, atrás dos EUA, México e Peru.

Para a vice-presidente de exportações do ProColombia ­- entidade de promoção do estado colombiano -, Juliana Villegas Restrepo, o acordo interessa muito à Colômbia, que vê o Brasil como um mercado com poder aquisitivo interessante, classe média crescente e público cada vez mais exigente. Ela lembra que, hoje, o Brasil é o segundo maior importador de têxteis e confecções da América Latina, mas é apenas o 10º destino das exportações colombianas desse tipo de produto. "Vamos trabalhar com os empresários colombianos para que o Brasil cresça nesse ranking. E nos agrada que o Brasil seja um mercado exigente, pois aqui temos qualidade, desenho e capacidade para responder a essa demanda", disse.

Impactos

Os efeitos reais do Acordo de Complementação Econômica 72, contudo, só serão percebidos em algum tempo. No momento, Brasil e Colômbia se concentram em estreitar os laços, ampliar os conhecimentos sobre os mercados e estabelecer novas parcerias. "Não temos números precisos sobre o impacto do acordo, mas a alteração da situação tarifária gera essa expectativa positiva. Nós vamos saber daqui a um ano o efeito concreto disso, mas a gente já percebe o aumento do interesse das indústrias e dos investidores dos dois países. E isso, sem dúvida, vai gerar um impacto muito positivo na balança comercial", afirma o embaixador Júlio G. Bitelli.

*A jornalista viajou a convite do Inexmoda

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