Reino Unido culpa Rússia por envenenar ex-espião

Premiê britânica dá um ultimato a Moscou para explicar como uma arma química contaminou cidadãos na Inglaterra

Escrito por Redação ,

Londres/Moscou. A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou, ontem, que é "altamente provável" que a Rússia seja o ator por trás do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha, Iulia, em Salisbury (sul da Inglaterra).

Em discurso no Parlamento, May afirmou que ou o Estado russo foi diretamente responsável pela intoxicação, ou permitiu que o agente neurotóxico que contaminou os dois chegasse às mãos de terceiros. Segundo a premiê, o agente identificado é de tipo militar, foi fabricado na Rússia e integra o grupo de agentes neurotóxicos "Novichok".

O embaixador russo em Londres foi convocado a dar hoje explicações sobre o motivo de o veneno ter ido parar em Salisbury. "Se não houver resposta crível, vamos concluir que essa ação equivale a um uso ilegal da força pelo Estado russo contra o Reino Unido", afirmou May.

Os EUA apoiaram os aliados britânicos. "O uso de um agente neurotóxico mortal contra um cidadão britânico em solo britânico é uma vergonha", declarou Sarah Sanders, porta-voz de Donald Trump, denunciando um "ataque irresponsável".

Skripal, 66, e sua filha Iulia, 33, foram achados desacordados em um banco de um parque no dia 4. Os dois permanecem internados em estado grave. O governo russo nega qualquer envolvimento com o ataque a Skripal. O Ministério das Relações Exteriores chamou o discurso de May de "um show de circo no Parlamento britânico". O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que "isso não é problema da Rússia", ressaltando que Skripal é um russo que trabalhou para o serviço secreto britânico.

Boicote à Copa

Um influente âncora da TV russa sugeriu, ontem, que foi o próprio Reino Unido quem planejou o envenenamento. Dmitri Kiselyov afirmou que Skripal pode ter sido sacrificado para que a comoção em torno do episódio estimulasse um boicote à Copa da Rússia, informou o jornal The Guardian. A desconfiança sobre o papel do Kremlin vem do fato de que alguns críticos do governo Putin já foram assassinados em circunstâncias misteriosas.

No mundo da espionagem, o caso que mais chama a atenção pela similaridade com o atual é o do envenenamento pelo isótopo radioativo polônio-210 de Alexander Litvinenko, morto em 2006, no Reino Unido.

O caso piora as relações de Moscou com o Ocidente, já prejudicadas pelas suspeitas de interferência russa nas eleições dos EUA em 2016. Ontem, relatório elaborado por deputados republicanos informou não ter achado indícios de conluio entre os russos e a campanha de Trump.