Rebeldes em pé de guerra com Ortega

Monimbó, bairro indígena, se mobiliza com bombas caseiras para enfrentar as forças de defesa do governo

Escrito por Redação ,

Masaya. Tudo parece paralisado, com barricadas de até dois metros nas ruas, sob alerta e quase sem dormir: Monimbó, um bairro indígena da rebelde cidade de Masaya, diz-se preparado para um confronto com as forças do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Hoje (13), o governo fará o "repliegue" ("recuo", em tradução livre), uma caravana liderada por Ortega anualmente até Masaya, 30 quilômetros ao sul de Manágua, para festejar o feito da insurreição que, comandada pelos sandinistas, derrubou o ditador Anastasio Somoza em 1979.

Isso faz temer uma violenta incursão nessa pequena localidade do sul de Masaya que há quatro décadas lutou com coragem contra Somoza e onde, há três meses, seus moradores se entrincheiraram em oposição a Ortega, um ex-guerrilheiro sandinista de 72 anos.

Bombas

"Aqui em Monimbó não vamos permitir. Não o queremos, e ele sabe disso. Nunca vão entrar, a menos que matem todos nós", garantiu, em uma barricada, um homem com o rosto coberto, de gorro e camisa verde-oliva. O "repliegue" será justo no dia em que a opositora Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia - que reúne grupos da sociedade civil- convocou uma paralisação nacional. É a segunda vez durante esta crise que deixou mais de 260 mortos até agora.

"Monimbó resiste. Não vão entrar, porque têm medo. Nós somos 'camicases': a gente morre, mas morrem os dois", disse um jovem de 28 anos que se identificou como "Guardabarranco" - nome da ave nacional-, em uma casa do movimento opositor.

O temor não é infundado. Nesse bairro de artesãos que trabalham habilmente o tecido, a madeira e o couro, nasceu a "bomba de contato", empregada pelos guerrilheiros sandinistas em seus combates contra a guarda somocista. "De dia, nossos artesãos fazem redes e artesanatos e, à noite, bombas", afirmou "Guardabarranco", explicando que usam pólvora, vidro e pregos em potes de comida para bebê, ou mostarda. Perto dele, Mariela, que aos 14 anos empunhou um fuzil contra a ditadura somocista, descreve seu povo de sangue indígena como "aguerrido, decidido e valente". "Os orteguistas vêm com armas de guerra, mas temos, além do valor, 6.000 bombas de contato", garante esta mulher que, agora aos 53 anos, contribui na organização do movimento. Símbolo da cidade mais combativa da Nicarágua, Monimbó não perdoa Ortega pela repressão dos protestos contra uma Reforma da Previdência, desde abril.