Vitória de partido de extrema direita agita política na Espanha

Eleições antecipadas na Andaluzia provocaram "terremoto" na política da Espanha, classificou El País

Escrito por AFP ,

A entrada de um partido de extrema direita em um Parlamento regional pela primeira vez na Espanha desde o retorno da democracia após a morte de Francisco Franco em 1975, agitou o cenário político do país.

Primeiro teste eleitoral desde a chegada ao poder do socialista Pedro Sánchez em junho, as eleições antecipadas na Andaluzia, região mais populosa da Espanha e tradicional reduto socialista, provocaram no domingo "um terremoto que modifica o panorama político nacional", estimou em seu editorial o jornal El País.

Em 2019 haverá eleições municipais, regionais e europeias, e provavelmente legislativas nacionais. Fundado em 2013, Vox se tornou no domingo o primeiro partido de extrema direita a entrar em um Parlamento regional espanhol desde a redemocratização há mais de 40 anos.

Com 12 deputados regionais, Vox terá peso na formação do futuro governo regional. O Partido Popular (direita) e o Cidadãos (centro direita) não excluíram uma aliança com a formação. Pedro Sánchez assegurou no Twitter que "os resultados na Andaluzia reforçam nosso compromisso de defender a Constituição e a democracia frente ao medo".

"Deixamos de ser uma exceção na Europa", onde tem havido um avanço de partidos de extrema direita, como na Itália, França e Alemanha, apontou Fernando Vallespín, professor de Ciências Políticas da Universidade Autônoma de Madri.

Segundo analistas, o Vox se beneficiou na Andaluzia da desmobilização da esquerda após 36 anos no poder e da fragmentação da direita.

"Porta da frente"

Vox "entrou pela porta da frente e vai subir rapidamente nas pesquisas nacionais", acredita Pablo Simón, da Universidade Carlos III, que não tem dúvidas de "que este partido conseguirá representação nas municipais, europeais e autônomas".

"A Reconquista (em referência à reconquista espanhola sobre os muçulmanos entre os séculos VII e XIV) começa em terras andaluzas e vai se estender para o resto da Espanha", tuitou a formação direitista.

Subestimado nas pesquisas regionais, Vox poderia obter um assento em legislativas nacionais antecipadas. Se entrar no Parlamento em Madri, será a primeira vez que a extrema direita terá representação desde 1982. Além de seus argumentos populistas, sobretudo de rejeição à imigração, o voto a favor do Vox, que promove a ilegalização dos partidos separatistas catalães, se nutriu da tentativa de independência da Catalunha há um ano. Uma questão que também alavancou o Cidadãos, que obteve 21 assentos regionais.

"Sabíamos que a crise catalã teria um efeito, e teve o que muitos temiam: a revitalização de um nacionalismo extremo", explicou Vallespín.

Diferente de outros países europeus onde o adversário da extrema direita "é a Europa e os imigrantes e até as próprias elites políticas, na Espanha o adversário é aquele que não compartilha uma determinada ideia de Espanha, uma ideia bastante franquista de um Espanha unitária", explicou.

Para o jornal El País, os resultados na Andaluzia "complicam qualquer cálculo nacional (...) para Pedro Sánchez".