Talibãs acertam trégua com forças afegãs

O cessar-fogo valerá para os três primeiros dias da festividade muçulmana e será o primeiro decretado pelos Talibãs desde a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos

Escrito por Agence France-Press ,

Os talibãs anunciaram neste sábado (09) um cessar-fogo com as forças afegãs por ocasião da festa do Eid al Fitr, que marca o fim do mês de jejum muçulmano do Ramadã, mas a trégua não incluirá as tropas estrangeiras no Afeganistão.

O cessar-fogo valerá para os três primeiros dias da festividade muçulmana e será o primeiro decretado pelos Talibãs desde a invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos. 

O grupo advertiu que seus combatentes se "defenderão com força" se forem atacados, destaca um comunicado enviado à imprensa, dois dias após o anúncio do governo afegão sobre um interrupção dos combates durante a festa religiosa.

"Todos os mujahedines foram orientados a deter as operações ofensivas contra as forças afegãs nos primeiros três dias do Eid al Fitr," diz uma mensagem dos talibãs no WhatsApp. "Mas se os mujahedines forem atacados, irão se defender com força".

A mensagem destaca "os ocupantes estrangeiros" não estão incluídos na trégua e que "nossas operações vão prosseguir contra eles...". 

Esta é a primeira vez que o talibã concorda com um cessar-fogo para a festa do Eid al Fitr desde a invasão das forças americanas, em 2001. 

Na quinta-feira, o presidente afegão, Ashraf Ghani, anunciou uma trégua temporária por ocasião das festividades do Eid al Fitr, afirmando não saber se os talibãs aceitariam.

Em seu anúncio, feito durante um discurso na televisão, Ghani indicou que o cessar-fogo começaria na segunda-feira, "27º dia do Ramadã e continuará até o quinto dia do Eid al-Fitr", que cairá entre 12 e 19 de junho.

Ashraf Ghani explicou que sua decisão, inédita, é uma resposta "à falta histórica dos ulemás afegãos", que decretaram que o terrorismo é contrário ao Islã.

Reunidos em Cabul em uma Loya Jirga (grande assembleia, em língua pastun), milhares de dignitários religiosos de 34 províncias publicaram um decreto que declara que "os ataques suicidas e as explosões são contrários à lei e (são) um pecado grave".

"As guerras em curso no Afeganistão não têm qualquer fundamento. As únicas vítimas são os afegãos. Não têm qualquer valor religioso, ou humano", afirma o texto, acrescentando que "apoiá-las, ou financiá-las, é contrário à sharia", a lei islâmica.

Ghani propôs a paz aos talibãs no final de fevereiro, mas os insurgentes não responderam.

Apesar de breve e limitado, este primeiro cessar-fogo trará um pequeno alívio à população de um país devastado por quase 17 anos de guerra ininterrupta desde que o regime Talibã foi derrotado.

Nos últimos anos, os talibãs, assim como o grupo extremista Estado Islâmico (EI), aumentaram seus atentados, especialmente em Cabul, tornando a capital o lugar mais mortífero do país para os civis.

"Apenas três dias sem que os talibãs nos matem e já estão ganhando nossos corações, se chegarem a um acordo de paz com o governo, os afegãos vão os carregar nos ombros", escreveu Shah Jahan Siyal, morador de Jalalabad, na província de Nangarhar. 

Poucas horas antes de aceitarem a trégua temporária, os talibãs atacaram uma base militar no oeste do país e mataram 19 soldados afegãos, segundo várias autoridades locais. Os insurgentes reivindicaram a ação.

Segundo o governador da província de Kunduz, Nehmatullah Taimuri, além dos mortos, cinco soldados ficaram feridos.

No total, 36 membros das forças de segurança morreram em dois ataques separados nas últimas horas - um ataque a uma base militar em Herat, no oeste do país, matou 17 militares afegãos.