Mulher descreve a TV assédio sexual por brasileiro vice-diretor de agência da ONU

Martina Brostrom disse à rede de TV CNN que o caso ocorreu em maio de 2015 em um hotel em Bancoc, na Tailândia

Escrito por Folhapress ,

Uma funcionária da ONU descreveu nesta sexta-feira (30) em entrevista o ataque que diz ter sofrido do brasileiro Luiz Loures, que é vice-diretor da Unaids (a agência de combate à Aids das Nações Unidas). É a primeira vez que detalhes do suposto episódio são revelados -uma investigação interna o inocentou da acusação. 

Martina Brostrom disse à rede de TV CNN que o caso ocorreu em maio de 2015 em um hotel em Bancoc, na Tailândia, durante uma conferência da agência, para qual ela também trabalha. 

A acusação contra Loures já tinha sido foi revelada em novembro de 2016, mas até o momento o nome da vítima não tinha sido divulgado. A investigação feita pela própria agência inocentou o brasileiro, que nega as acusações. Apesar disso, ele anunciou em fevereiro que não iria tentar um novo mandato -ele deixa o cargo nesta semana. 

Em entrevista à TV CNN, Martina Brostrom disse que o brasileiro a agarrou no elevador, a beijou a força e tentou puxá-la para dentro de seu quarto.

"Eu fui empurrada contra a parede. Ele então começou a enfiar a língua na minha boca, tentando me beijar. E ficou apalpando meu corpo, incluindo meus seios. Quando a porta do elevador se abriu, ele tentou me puxar para fora do elevador, me arrastar para o corredor de seu quarto", disse ela, segundo trechos divulgados pela CNN -a entrevista completa vai ao ar nesta sexta (30).

Além de Brostrom, Malayah Harper também disse à CNN ter sido alvo de um ataque semelhante de Loures em um quarto de hotel em 2014, quando trabalhava para a Unaids. Uma terceira mulher, que não quis se identificar, também acusou o brasileiro. 

Procurado pela rede de TV,  Loures enviou uma nota negando a acusação. "Eu cooperei totalmente com a investigação independente e comprovei minha inocência. As acusações contra mim são falsas", disse ele.

Apesar do ataque, Brostrom decidiu não prestar queixas imediatamente contra Loures e denunciou o caso só em novembro de 2016, quando uma mudança na estrutura da Unaids faria com que ela passasse a trabalhar diretamente com o brasileiro. 

Ela então procurou o diretor da Unaids, Michel Sidibé, e apresentou a queixa contra Loures. 

A CNN disse ter tido acesso ao relatório final da investigação, que durou 14 meses. Segundo o documento, apesar de o comportamento de Loures de "beijar e manter contato físico com a equipe possa ser visto como inapropriado", não havia nem evidências suficientes nem provas que corroborassem a acusação de que ele tinha feito um ataque sexual. 

Segundo a CNN, os investigadores conversaram com quatro pessoas pessoas que tiveram contato com Brostrom após o ataque –sua mãe, seu supervidor e dois colegas– e todos afirmaram que ela estava chateada e chorando naquela noite. 

Aos investigadores, Loures disse que Brostrom tinha bebido muito, que ela havia dito algo que poderia ser entendido como fazendo parte do acordo de confidencialidade entre médico e paciente e que ela havia falado a ele sobre seu comportamento sexual.

Loures também falou aos investigadores sobre o fato de que Brostrom agora está em um relacionamento com o supervisor dela à época. 

Brostrom disse à CNN que não tinha bebido, que nunca foi paciente de Loures e que não falou a ele sobre suas preferências sexuais. Ela afirma que a referência dele ao relacionamento dela é uma tentativa de "desviar a atenção daquilo que realmente importa".

Ela afirma que a investigação foi uma fraude e disse que Sidibé a procurou durante uma viagem a Estocolmo para que ela abandonasse a queixa e aceitasse um pedido de desculpas do brasileiro em troca de uma promoção –ele nega ter feito a oferta. 

Brostrom está de licença da agência de modo quase contínuo desde abril de 2017 devido, segundo um laudo, a um incidente em maio de 2015. 

Questionado pelos investigadores, Loures negou que planejasse pedir desculpas ou se encontrar com  Brostrom e afirmou que queria uma investigação completa do caso, pois isso provaria sua inocência.

Já Sidibé disse no inquérito que seria bom se a situação fosse resolvida de modo satisfatório tanto para a Unaids quanto para Brostrom e que chegou a conversar com ela sobre uma promoção, mas as duas coisas não estariam ligadas.

Procurada por email pela Folha, a Unaids não respondeu até a publicação desta reportagem.