Iêmen enfrenta novos combates, apesar de esforços de paz

Governo do Iêmen anuncia participação nas negociações de paz na Suécia

Escrito por AFP ,

Combates violentos irromperam nesta segunda-feira (19) entre rebeldes e forças pró-governo na cidade portuária iemenita de Hodeida, apesar dos apelos por calma e esforços de paz no Iêmen, disseram oficiais militares pró-governo.  Esses combates, os mais violentos desde 14 de novembro, estão concentrados na parte leste da cidade, onde os rebeldes lançaram fogo de artilharia e onde as forças leais ao governo responderam.

A aviação da coalizão liderada pela Arábia Saudita lançou 12 ataques aéreos, segundo a mesma fonte. Mais cedo, um líder dos rebeldes iemenitas huthis havia pedido o congelamento das operações militares contra as forças leais ao governo para dar uma oportunidade aos esforços do enviado da ONU, que esta semana viajará a Sanaa para organizar negociações de paz.

Apoiadas por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita desde 2015, as forças pró-governo tentam expulsar os rebeldes huthis dos vastos territórios que conquistaram em 2014, incluindo a capital Sanaa e a cidade portuária de Hodeida, o que afundou o país em uma guerra devastadora.

Em um comunicado divulgado no Twitter, Mohamed Ali Al Huthi, comandante do conselho supremo revolucionário dos rebeldes, indicou que os huthis tomaram a "iniciativa de reunir as diversas facções iemenitas com o objetivo de cessar o lançamento de mísseis sobre os países agressores", em referência, entre outros, à Arábia Saudita. "A decisão foi tomada para desencorajar qualquer justificativa para a continuidade da agressão, ou do bloqueio, por parte da coalizão contra o país", completa.

O líder rebelde também pediu aos dirigentes rebeldes que confirmem a disposição de "congelar e cessar as operações militares em todas as frentes para chegar a uma paz justa". A guerra no Iêmen matou quase 10.000 pessoas e representa a maior crise humanitária do mundo, segundo a ONU, mas organizações humanitárias consideram que o balanço de vítimas diretas e indiretas do conflito seja muito maior. 

No comunicado, Mohamed Ali Al Huthi afirma que o apelo tem o objetivo de "apoiar os esforços" do enviado da ONU, Martin Griffiths, e demonstrar as "boas intenções" dos insurgentes. Griffiths havia solicitado o fim dos lançamentos de mísseis e de drones durante uma conversa com os rebeldes.

Griffiths disse ao canal de televisão Sky News que pretende relançar as negociações "em algumas semanas". O ministro francês das Relações Exteriores Jean-Yves Le Drian afirmou que elas poderão ser celebradas "no começo de dezembro".

No domingo, o "ministro das Relações Exteriores" dos rebeldes, Hicham Charaf, reuniu-se com Nicholas Davies, alto funcionário da equipe da ONU, informou a Saba, a agência de notícias dos rebeldes. O encontro abordou os "esforços do enviado especial para lançar o processo político e as negociações de paz no Iêmen".

A ONU e a comunidade internacional têm de "optar pela via política para acabar com o derramamento de sangue e com a destruição", declarou Charaf, citado pela Saba. Após uma tentativa frustrada de organizar negociações em setembro em Genebra, Griffiths afirmou na sexta-feira que o Conselho de Segurança da ONU tem a intenção de reunir as partes o mais rápido possível na Suécia.

O governo iemenita anunciou nesta segunda-feira que vai participar das negociações previstas para a Suécia. "Acredito que estamos perto de superar os obstáculos para que isto possa acontecer", declarou Griffiths, que não citou uma data para o encontro.

De acordo com o enviado da ONU, a coalizão militar liderada por Riad aceitou "ajustes logísticos" para abrir o caminho da negociação. Griffiths também anunciou que um acordo sobre a troca de prisioneiros está próximo, um novo sinal de confiança mútua antes das futuras negociações. O ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, desembarcou nesta segunda-feira em Teerã para discutir com o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarid, o papel do Irã no conflito iemenita.

O rascunho de resolução da ONU sobre o Iêmen distribuído pela Grã Bretanha e apresentado nesta segunda-feira no Conselho de Segurança, reivindica a trégua imediata na cidade portuária de Hodeida. Além disso, estabelece um prazo de duas semanas para que se eliminem todas as barreiras à ajuda humanitária, segundo o documento.