França: extrema direita pede nova eleição após fracasso de Macron com protestos

Marine Le Pen, líder da extrema-direita, aproveitou a crise dos "coletes amarelos" para cobrar novo pleito

Escrito por Redação ,

No dia 7 de maio de 2017, Emmanuel Macron derrotou Marine Le Pen, líder da extrema-direita, e se tornou presidente da França.  Agora, com o descontrole dos protestos dos "coletes amarelos", que levaram caos às ruas de Paris, depredando ícones turísticos do país, como o Arco do Triunfo, Le Pen deu sua receita para resolver a crise: antecipar as eleições, abreviando o mandato do antigo oponente, que é de cinco anos.

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Em entrevista ao canal France 3, Le Pen defendeu a realização de novo pleito. “É preciso dissolver a Assembleia Nacional para que tenham lugar eleições segundo o método proporcional”, disse.

Le Pen pediu para ser recebida por Macron com os outros líderes dos partidos políticos de oposição. Um dia após o terceiro sábado de manifestações contra a alta dos preços dos combustíveis, Macron manteve o silêncio. Apenas visitou as imediações do Arco do Triunfo, acompanhando o início dos trabalhos de limpeza dos monumentos vandalizados.

Segundo o jornal britânico "Daily Mail", a França viveu algo semelhante ao visto em 1968, ou seja, os protestos terminaram com centenas de presos e feridos, sendo as piores manifestações do país em 50 anos.

Macron dirigiu neste domingo uma reunião de emergência do Executivo para tratar da grave crise política. Recém-chegado de Buenos Aires, onde participou da reunião de cúpula do G20, o presidente francês foi vaiado por alguns manifestantes, durante a visita ao Arco do Triunfo.

Em seguida, Macron dirigiu uma reunião de emergência com alguns de seus ministros, a fim de encontrar uma resposta para um movimento que parece fugir de qualquer controle.

A violência em Paris foi de "uma gravidade sem precedentes", lamentou neste domingo o chefe da polícia Michel Delpuech. Um total de 412 pessoas foram detidas, "um nível nunca alcançado nas últimas décadas", assinalou Delpuech em entrevista coletiva, lamentando a "violência extrema e inédita" contra as forças de ordem, com "lançamento de martelos e bolas de aço". 

Cerca de 136 mil pessoas participaram do terceiro sábado de protestos organizados em toda a França pelos coletes amarelos, o que representa um aumento em relação ao número de manifestantes nos protestos da semana anterior, dos quais participaram 106 mil pessoas, segundo o governo francês.

Os distúrbios de ontem, de dimensão inédita em Paris, deixaram 133 feridos, entre eles 23 membros das forças de segurança. Incidentes também foram registrados no restante do território francês.

O Senado francês anunciou neste domingo que convocou para terça-feira os dois ministros da segurança para darem "explicações sobre os meios estabelecidos pelo Ministério do Interior" no sábado.

Macron acusou os manifestantes violentos de quererem apenas o "caos". Seu ministro do Interior, Christophe Castaner, não descartou a possibilidade de decretar estado de emergência, para evitar um novo surto de violência no próximo fim de semana.

Segundo o presidente, os distúrbios "nada têm a ver com a expressão de descontentamento legítimo" dos "coletes amarelos", um movimento social de franceses que, inicialmente, opunha-se ao aumento do preço dos combustíveis e, depois, expandiu-se para o problema do poder de compra, e que acusa o governo de Macron de tratá-los com desprezo e intransigência.

Após a violência desse sábado, algumas vozes do poder sugeriram que haverá mudanças, pelo menos na forma da ação governamental. 

"Pecamos por estarmos muito distantes da realidade dos franceses", declarou o novo líder do partido de Macron, LREM (A República em Marcha), Stephane Guerini.

Ontem à noite, Castaner reconheceu que o governo "se ateve a discutir a necessidade de se abandonar o petróleo", já que a explosão da ira popular foi devido a um projeto de imposto sobre o combustível destinado a financiar a transição ecológica.

Mas a oposição e parte dos "coletes amarelos", movimento sem estrutura nem líder claro, reclamam um forte gesto do governo, começando com uma moratória ou um congelamento do aumento dos impostos sobre os combustíveis.À direita, o presidente do partido Republicanos, Laurent Wauquiez, reiterou seu apelo à organização de um referendo sobre a política ecológica e fiscal de Emmanuel Macron. O líder dos socialistas, Olivier Faure, exigiu medidas voltadas para o poder de compra.

Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical, pediu o restabelecimento do imposto sobre as grandes fortunas, enquanto aplaudiu "a rebelião cidadã" que "faz tremer o mundo do dinheiro".

Diante das reivindicações, o governo anunciou medidas de auxílio (verificações de energia, bônus de conversão), mas descartou qualquer mudança de direção. Neste domingo, seu porta-voz, Benjamin Griveaux, reiterou esta posição, "porque o curso é o certo". 

Diante da dificuldade de canalizar para uma estrutura de negociação um movimento popular nascido fora de qualquer estrutura, Griveaux lembrou a disposição do governo em dialogar, assegurando que o Executivo "está pronto" para discutir com representantes dos coletes amarelos.