Espanha ameaça acordo do Brexit por Gibraltar

Presidente espanhol pressiona sócios europeus

Escrito por AFP ,

O presidente de governo espanhol, Pedro Sánchez, pressionou nesta terça-feira seus sócios europeus, ameaçando bloquear o acordo sobre o Brexit caso não se reconheça o papel direto da Espanha na negociação sobre o futuro de Gibraltar. "Nós como país não podemos assumir que o que acontecerá com Gibraltar no futuro dependa de uma negociação do Reino Unido com a União Europeia", disse o mandatário socialista em um encontro em Madri organizado pela revista britânica "The Economist".

A situação de Gibraltar, enclave britânico de 7 km² no sul da península Ibérica, "terá que ser algo que Reino Unido e Espanha definam e negociem e cheguem a um acordo. Isso, há 72 horas, não está garantido, nem no acordo de retirada nem na declaração futura", argumentou.

"Portanto, no dia de hoje, lamento dizer que um governo pró-europeu, como é o governo da Espanha, votará, se não houver mudanças, não ao Brexit", em uma cúpula europeia prevista para este domingo em Bruxelas, alertou.

Em Madri, uma fonte do executivo espanhol insistiu  nesta ideia. Segundo essa fonte, o governo espanhol quer que fique "claro" que o futuro de Gibraltar "se decide por uma negociação bilateral entre o Reino Unido e a Espanha, que é o que já estava decidido nas diretrizes do Conselho" Europeu.

A fonte acrescentou que "estão sendo feitas gestões em todos os níveis" e que Sánchez se reuniu nesta terça-feira com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e deveria encontrar também com o presidente do Conselho, Donald Tusk, e com a primeira-ministra britânica Theresa May. A fonte garantiu que Juncker manifestou "compreensão" a Sánchez, e que vários países europeus apoiam a posição espanhola.

A Espanha conta com o acordo de princípio de seus parceiros europeus de que deverá ter um papel decisório na negociação detalhada sobre a futura relação com o enclave britânico, ao qual diariamente chegam milhares de trabalhadores transfronteiriços. Madrid argumenta, contudo, que esse papel não aparece formulado com clareza no acordo de retirada do Reino Unido do bloco, anunciado na semana passada. 

Eleições

Sánchez advertiu, nesta terça-feira, que, se não conseguir aprovar os orçamentos de 2019, antecipará as eleições legislativas. "Se não chegarmos a aprovar os orçamentos, minha vocação de chegar até o final da legislatura [em junho de 2020] se vê encurtada", disse Sánchez.

"Como presidente do governo, eu decidirei quando convocar as eleições", afirmou, acrescentando que fará isso "quando considerar que são benéficas para o interesse geral do país".

Governo mais minoritário em quatro décadas de democracia na Espanha, o líder socialista tem tido dificuldades para governar. Sánchez chegou ao poder em junho, após uma bem-sucedida moção de censura contra o governo conservador de Mariano Rajoy. 

Já na segunda-feira, o ministro da Defesa, José Luis Ábalos, muito próximo do presidente, havia dito que não se descarta antecipar as legislativas para 26 de maio, coincidindo com as eleições municipais, regionais e europeias.