Derretimento de geleiras pode provocar 'caos' climático

De acordo com estudo publicado pela revista Nature, o aquecimento global vem provocando mudanças naos blocos de gelo

Escrito por AFP ,

O derretimento das geleiras da Groenlândia e da Antártida, além de aumentar o nível dos oceanos, pode acelerar os fenômenos extremos e desestabilizar o clima de algumas regiões nas próximas décadas, alertam pesquisadores.

Segundo este estudo publicado na quarta-feira (6) na revista Nature, bilhões de toneladas de água de geleiras, principalmente na Groenlândia, ameaçam enfraquecer as correntes oceânicas que atualmente transportam água fria para o sul, mergulhando no fundo do Atlântico, enquanto empurra as águas tropicais para o norte, mais perto da superfície.

Conhecida pela sigla AMOC (Circulação Meridional de Derivação Atlântica), essa grande "esteira rolante" oceânica desempenha um papel crucial no sistema climático e ajuda a manter algum calor no hemisfério norte.

"Segundo nossos modelos, o gelo derretido causará grandes perturbações nas correntes oceânicas e mudará os níveis de aquecimento global", explica o principal autor do estudo, Nicholas Golledge, do Centro de Pesquisa Antártida da Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia.

Muitos estudos sobre as calotas polares concentraram-se na velocidade de derretimento em decorrência do aquecimento global, e sobre seu "ponto de inflexão" (momento em que o desaparecimento das calotas polares será inevitável, mesmo que o derretimento total possa levar séculos). 

Mas menos sobre como essas águas poderiam afetar o clima.

"As mudanças em larga escala que vemos em nossas simulações são propícias a um clima mais caótico, com eventos extremos mais frequentes, mais ondas de calor e mais intensas", declarou à AFP Natalya Gomez, da Universidade McGill, no Canadá.

- 15 cm até 2100  -

Segundo os pesquisadores, até a metade deste século, "a água do degelo da calota da Groenlândia vai perturbar sensivelmente o AMOC", que já exibe sinais de estar mais devagar.

Este é um prazo "muito menor do que o esperado", comentou Helene Seroussi, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), que não participou do estudo.

As conclusões dos pesquisadores são baseadas em simulações detalhadas e observações por satélite das mudanças ocorridas nas calotas de gelo desde 2010.

Entre as prováveis consequências do enfraquecimento da corrente atlântica, a temperatura do ar será maior no Alto Ártico, no leste do Canadá e na América Central e, ao contrário, mais baixa na Europa ocidental.

As geleiras da Antártida e da Groenlândia, que podem atingir até 3 km de espessura, contêm mais do que dois terços da água doce no planeta, o suficiente para causar uma elevação dos oceanos, respectivamente, de 58 e 7 metros se derreterem completamente.