Canal de comunicação entre as Coreias é reaberto

Linha de comunicação transfronteiriça estava fora de serviço desde 2016

Escrito por AFP ,

As duas Coreias reativaram nesta quarta-feira (3) a linha vermelha de comunicação transfronteiriça, fora de serviço desde 2016, apesar das declarações polêmicas de Donald Trump, que se vangloriou de ter um botão nuclear "muito maior" do que o de Kim Jong-Un.

O canal de comunicação de Panmunjom, vilarejo na fronteira entre os dois países onde o cessar-fogo da Guerra da Coreia (1950-1953) foi assinado, foi reaberto às 3h30, horário de Brasília, após quase dois anos.

"A conversa telefônica durou 20 minutos", declarou um funcionário do ministério da Unificação da Coreia do Sul, sem mais detalhes.

Recentemente, o governo de Seul propôs diálogo ao seu vizinho, em resposta a um gesto do líder norte-coreano, que evocou uma possível participação nas Olimpíadas de Inverno que acontecem no próximo mês na Coreia do Sul.

Kim Jong-Un aproveitou seu discurso de Ano Novo à Nação para esse raro gesto em direção ao Sul, em um contexto de crescente tensão. Nos últimos meses, o Norte realizou uma série de disparos de mísseis balísticos e seu sexto teste nuclear, avançando em suas ambições militares.

Seul propôs a realização em 9 de janeiro, pela primeira vez desde 2015, de discussões de alto nível em Panmunjom sobre as Olimpíadas, mas também sobre "outras questões de interesse mútuo para a melhoria das relações intercoreanas".

O líder norte-coreano também aproveitou o discurso de Ano Novo para reiterar que seu país é um Estado nuclear, advertindo que sempre mantém o "botão atômico" ao alcance dos dedos.

'Maior e mais poderoso'

A declaração provocou um novo tuíte de Donald Trump, em seu estilo muito particular.

"O líder norte-coreano Kim Jong-Un disse que tem 'o botão nuclear sempre em seu escritório'. Alguém deste debilitado e famélico regime deve informar a ele que eu também tenho um botão nuclear, maior e mais poderoso que o dele, e que o meu botão funciona", escreveu o americano.

Washington também rejeitou a perspectiva de um diálogo intercoreano.

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, considerou que seu país "não levará a sério qualquer reunião (entre Seul e Pyongyang) que não preveja a total proibição de armas nucleares na Coreia do Norte".

Já a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, disse que Kim "pode ​​estar tentando romper a ligação" entre Seul e Washington.

Pyongyang não pareceu se incomodar com a reação americana. Kim Jong-Un saudou o apoio de Seul à sua proposta, de acordo com Ri Son-Gwon, chefe do Comitê norte-coreano para a Reunificação Pacífica da Coreia (CRPC).

O Norte e o Sul estão separados há décadas pela Zona Desmilitarizada (DMZ), uma das fronteiras mais fortemente armadas do mundo. As últimas discussões bilaterais, em dezembro de 2015, fracassaram.

A linha telefônica de Panmunjon era utilizada duas vezes por dia antes de ser interrompida em fevereiro de 2016, após a deterioração das relações bilaterais relacionadas a uma disputa sobre o complexo industrial conjunto Kaesong.

'Oportunidade para a paz'

O presidente sul-coreano, Moon Jae-In, há muito defende o diálogo, mas Washington sempre ressaltou que não aceitará uma Coreia do Norte com armas nucleares.

Pyongyang diz que precisa da arma atômica para se proteger da hostilidade de Washington, e tenta desenvolver uma ogiva nuclear capaz de atingir o território continental dos Estados Unidos.

A ONU adotou uma série de sanções na tentativa de dissuadir a Coreia do Norte, sem sucesso.

Moon elogiou o Norte por "uma resposta positiva à nossa proposta de tornar as Olimpíadas de Pyeongchang uma oportunidade revolucionária para a paz".

Qualquer aproximação intercoreana ocorreria em um contexto de suspeita ou até mesmo de hostilidade por parte de Washington, enquanto Kim e Trump trocam insultos pessoais há meses.

O presidente americano chamou Kim de "gorducho" e "homem foguete". O líder norte-coreano descreveu o ocupante da Casa Branca como "um velho mentalmente perturbado".