Americanos se mobilizam contra o livre acesso às armas de fogo

As manifestações nos EUA ocorrem em prol da proibição de fuzis no comércio, da venda livre de carregadores para armas semiautomáticas e o reforço dos controles de antecedentes de possíveis compradores

Escrito por Redação ,

Uma multidão de milhares de jovens e adultos se aglomerava nesta sábado (24) no centro de Washington, assim como em outras cidades dos Estados Unidos, pedindo medidas para controlar o acesso às armas de fogo.

As marchas foram convocadas e organizadas por jovens estudantes, cansados dos constantes ataques a tiros e massacres em escolas com armas de fogo, que deixam cerca de 30 mil mortos a cada ano no país. Adultos se somaram às manifestações, no que já se considera um dos maiores protestos em pelo menos uma geração.

Os oradores mais ovacionados em Washington foram vários dos sobreviventes do massacre do mês passado em uma escola de Parkland, na Flórida, onde 14 estudantes e três adultos foram mortos a tiros.

"Se juntem a nós e se preocupem, porque os eleitores vão falar", disse Cameron Kasky, sobrevivente desse ataque.

David Hogg, outro sobrevivente, falou à multidão que "podemos e vamos mudar este mundo". "Quantos mais têm que morrer?", perguntavam na fria manhã deste sábado incontáveis cartazes em referência ao último massacre de Parkland. "Eu serei a próxima?", dizia um carta levado por uma jovem em meio à multidão.

"Livros, não armas", "Protejam a vida dos jovens, não as armas", "Chega de armas!", eram algumas das frases repetidas milhares de vezes pela multidão que se mobilizava pela Avenida Pensilvânia, que liga a Casa Branca ao Capitólio, sede do Congresso.

Formalmente, a "Marcha pelas nossas vidas" pede a proibição da comercialização de fuzis de assalto, da venda livre de carregadores para armas semiautomáticas e o reforço dos controles de antecedentes das pessoas interessadas em comprar armas.

Classe política na mira

Entretanto, a ira dos manifestantes tem foco fundamentalmente na classe política, que tem sido incapaz de articular uma resposta efetiva à generalizada violência com armas de fogo.

"Estou cansada! Não quero mais que os políticos dediquem seus 'pensamentos e orações' a esta tragédia. Queremos ações! Queremos que façam algo! Já chega!", disse a estudante Rose Gomez, de 17 anos, que se somou à marcha acompanhada de toda a sua família.

Outros manifestantes pediam a reforma da Segunda Emenda à Constituição, que consagra o direito aos cidadãos de possuírem armas de fogo. Muitos outros reclamavam o fim da influente Associação Nacional do Rifle (NRA), poderoso lobby que defende a posse de armas e contribui para campanhas políticas.

"Não deveríamos ter armas em nossa sociedade. Esses meninos têm toda razão", disse Jeff Turchin, de 68 anos, que foi ao protesto.

O senador democrata Chris Murphy, que representa o estado do Tennessee, onde 20 crianças foram mortas a tiros em uma escola em 2012, disse neste sábado que o movimento lançado pelos estudantes "deve se tornar uma força eleitoral".

As marchas deste sábado têm o apoio de personalidades públicas americanas. O ator George Clooney e sua esposa, a advogada de direitos humanos Amal, doaram meio milhão de dólares ao movimento. Oprah Winfrey e Steven Spielberg também somaram seu apoio, e o ator Bill Murray comparou as manifestações deste sábado com os protestos contra a Guerra do Vietnã na década de 1960.

Para a marcha em Washington figuras conhecidas já confirmaram sua presença, como Ariana Grande, Jennifer Hudson, Demi Lovato, Justin Timberlake e Miley Cyrus.

Alcance 

Enquanto o centro da capital americana era tomado por jovens, crianças e adultos, o mesmo acontecia em quase 100 cidades de todo o país. Um dos protestos acontecia em Parkland, na Flórida, onde, no mês passado, ocorreu o massacre em uma escola.

Em Nova York, a marcha contou com a presença do músico Paul McCartney, que caminhava junto com a multidão. "Um dos meus melhores amigos foi vítima da violência com arma de fogo perto daqui", declarou McCartney, em referência ao assassinato a tiros de John Lennon, em 1980.

Também foram realizadas manifestações em Atlanta, Boston, Chicago, Cincinnati, Dallas, Houston, Miami, Minneapolis, Nashville e Seattle, entre outras.