Maio de 1968 gera análises na França

Escrito por Redação ,

Paris. A geração que protagonizou o movimento de Maio de 1968 se mantém fiel a seus ideais de justiça e de liberdade, afirmam especialistas no momento em que a França se prepara para celebrar o 50º aniversário de um dos meses mais tumultuados de sua história. Suas conclusões tentam desmontar o mito que cerca os jovens que protagonizaram a maior greve geral da história da França e suas aspirações de mudança.

Durante décadas, foram retratados como estudantes rebeldes, de famílias abastadas, e que logo abandonaram rapidamente seus ideais anticapitalistas.

Em 2007, o ex-presidente Nicolas Sarkozy defendeu que se “liquidasse” os legados daquela época, denunciando “todos esses políticos que dão lições que nem eles mesmos seguem”.

Alguns críticos acusam toda uma geração de ter introduzido o individualismo desenfreado e o consumismo frenético, ou seja, uma “americanização” imperdoável da sociedade francesa. 

“Quando investigamos as pessoas anônimas que participaram do movimento, nos damos conta de que a ideia de que a geração de Maio de 1968 deu as costas para a causa é completamente falsa”, explica a pesquisadora Julie Pagis, do Centro Nacional de Pesquisa Científica, na França.

Entre as 170 famílias analisadas por Pagis para um livro sobre o tema, “apenas uma pessoa” deu uma guinada para a direita.

“Há uma grande fidelidade à esquerda, ou à extrema esquerda”, disse a pesquisadora.

O historiador Pascal Ory afirma que o espírito de Maio de 1968 não apenas se estendeu à extrema esquerda e anarquista, mas se prolongou por meio de novos combates “influenciados por perspectivas libertárias”, como o feminismo, o ecologismo, ou a luta contra o racismo. Para Olivier Fillieule, da Universidade de Lausanne, parte da geração de Maio de 1968 pagou um preço pelo ativismo, em termos de rejeição social e diminuição das perspectivas de emprego.