Linha liberal da nova equipe econômica traz novo ânimo ao mercado

A escolha dos nomes e ações como a fusão das pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior vem surtindo efeitos, como a valorização do real e a alta dos ativos brasileiros no cenário internacional

Escrito por Yohanna Pinheiro , yohanna.barros@diariodonordeste.com.br
Legenda: Em 2021 e 2022, o crescimento da economia brasileira não passaria de 0,6% e 0,4%, respectivamente
Foto: FOTO: AFP

Definidos os principais nomes da equipe econômica do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro, o mercado segue otimista com a condução das medidas macroeco-nômicas para alcançar o objetivo primordial de equilibrar o caixa da União. Além de serem provenientes do mercado, em especial de instituições bancárias, os membros da equipe de Paulo Guedes compartilham ao menos uma semelhança: a linha liberal.

Com a fusão das pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior no chamado "superministério" da Economia, Guedes concentrará as rédeas das políticas macroeconômicas, enquanto Roberto Campos Neto, proveniente da direção do Banco Santander, substituirá Ilan Goldfajn no Banco Central (BC). O nome dele ainda será levado ao Senado, que tem a atribuição de aprovar a indicação.

"A Fazenda, o Planejamento e o Banco Central encabeçam o Conselho Monetário Nacional (CMN), que define as diretrizes econômicas, quanto dinheiro vai circular, a política creditícia e cambial, enfim, tudo relacionado à macroeconomia", explica a economista Rozana Ventura, especialista em finanças. "São pessoas de alta capacidade técnica, muito mais direcionada para a resolução de problemas que a questões políticas".

As indicações anunciadas animaram os mercados. Ontem, na primeira rodada após indicação de Roberto Campos Neto para comandar o BC e da permanência do atual secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, o dólar caiu ante o real e o Ibovespa ampliou os ganhos, com os estrangeiros impulsionando as compras de ações depois que, no dia anterior, os ativos brasileiros subiram com força no cenário internacional.

"É uma equipe muito alinhada na questão ideológica e de experiência, vai conseguir conduzir de forma tranquila, conversar na mesma linguagem. Mas vai ter que observar a questão da conversa com o Legislativo", pontua.

Divergências

Embora especialistas observem um tom coeso na equipe, ainda há arestas. No período que antecedeu a eleição, Bolsonaro chegou a contestar propostas de Guedes, como a privatização de todas as estatais, além da polêmica após a fala em que o economista teria sugerido a recriação da CPMF, que incide sobre movimentação financeira, depois substituída pela ideia de criar um imposto único federal.

Outra dificuldade a ser enfrentada pela equipe será o trato com o Congresso. "Como o Governo não pode implementar algumas medidas de forma independente, sendo necessário que várias propostas importantes passem pelo Legislativo, esse trânsito com os parlamentares precisa ser bem articulado para garantir o encaminhamento das propostas", aponta Ventura.

Também preocupa a independência que o BC terá do governo - o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse querer aprovar ainda neste ano o projeto de lei que prevê a autonomia do banco. "Paulo Guedes defendia um BC independente, mas ainda não sabemos o que vai acontecer", pondera o economista Lauro Chaves, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon).

Oportunidades

O economista ainda ressaltou que Joaquim Levy, que foi ministro do Planejamento do governo de Dilma Rousseff, tem o perfil ideal para lidar com um novo padrão de funcionamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mais focado em inovação e na melhoria da produtividade. "Se isso for implantado, teremos aberto um leque muito grande de possibilidades para o Ceará, com sua trinca de hubs", aponta.

Já o professor Almir Bittencourt, do Departamento de Economia Aplicada da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que o Estado deve se beneficiar mais com o reequilíbrio das contas da União e com a retomada do crescimento econômico. "Com a capacidade de o País voltar a investir, o efeito vai ser importante sobretudo ao Ceará, já equilibrado".

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