Embaixada dos EUA vai mesmo para Jerusalém

O líder estadunidense fará um anúncio formal hoje sobre a posição de seu governo quanto ao status da 'Cidade Santa'

Escrito por Redação ,
Legenda: A notícia sobre a intenção do presidente norte-americano gerou reações de repúdio na comunidade árabe, que promete dia de cólera na sexta-feira
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Washington/Jerusalém. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou ontem que pretende transferir a embaixada americana para Jerusalém, apesar das advertências de líderes mundiais sobre os riscos de a medida provocar um mal-estar no Oriente Médio e prejudicar os esforços de paz entre israelenses e palestinos.

Trump fará um anúncio formal hoje sobre a posição de seu governo sobre o estatuto de Jerusalém, informou a porta-voz da Casa Branca Sarah Sanders. Washington poderá reconhecer Jerusalém como capital de Israel e com isso transferir sua embaixada, atualmente em Tel Aviv.

Ontem, em uma série de telefonemas diplomáticos, Trump informou ao líder palestino, Mahmud Abbas, e ao rei da Jordânia, Abdullah II, que o projeto profundamente polêmico que representa o reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel avançava, embora não tivesse uma data para concluí-lo. O estatuto de Jerusalém é um tema-chave no conflito israelense-palestino, e ambas as partes reivindicam a cidade como sua capital.

A Liga Árabe pediu que Washington reconsidere sua decisão, enquanto o rei Salman, da Arábia Saudita, aliado dos Estados Unidos na região, advertiu que a mudança poderia desatar "a ira dos muçulmanos em todo o mundo". À noite, o presidente norte-americano falou com o rei Salman e o presidente egípcio, Abdel Fattah Al-Sisi. Ambos advertiram-no a não avançar na mudança de embaixada. "É uma iniciativa perigosa", disse o rei saudita, reportou de Riad a emissora de TV Al Ekhbariya.

'Linha vermelha'

Mais cedo, as advertências já tinham se multiplicado. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse a Trump que o estatuto de Jerusalém é uma "linha vermelha para os muçulmanos" e ameaçou cortar os laços diplomáticos da Turquia com Israel.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, expressou que os membros da entidade decidiram se reunir no Cairo diante do "perigo desta questão e suas possíveis consequências negativas não só para a situação da Palestina, mas também na região árabe". As mesmas palavras foram usadas pelo líder do movimento islâmico palestino Hamas, Ismail Haniyeh, para quem "o reconhecimento da administração americana de Jerusalém ocupada como a capital da ocupação e a transferência da embaixada para Jerusalém ultrapassam todas as linhas vermelhas".

Em carta enviada a dirigentes árabes e muçulmanos, o movimento islâmico convocou os palestinos dos Territórios a se manifestarem na sexta-feira (8), proclamando, segundo uma expressão já consagrada, um "dia de cólera". Em virtude do anúncio de manifestações anunciadas pelos palestinos, Washington decidiu restringir a seus funcionários qualquer deslocamento pessoal na Cidade Velha de Jerusalém.

A interdição vale também para a Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel e contíguo a Jerusalém, acrescentou o Departamento de Estado. Apenas deslocamentos oficiais "essenciais", seguidos de medidas de segurança suplementares, estão autorizados.

O Departamento de Estado advertiu, ainda, que "os cidadãos americanos devem evitar os locais onde se concentrem multidões e os lugares onde houver forte presença policial ou militar". A transferência da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém foi uma das principais promessas de campanha de Trump.

"O presidente foi claro: não é uma questão de 'se', mas uma questão de 'quando'", disse na segunda-feira o porta-voz da Casa Branca Hogan Gidley.

 

Processo de paz

Trump diz querer relançar os diálogos de paz congelados entre Israel e os palestinos em busca de um "acordo definitivo", mas seu reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel poderá destruir tal esforço, alertou um funcionário palestino. "Não aceitaremos mais a mediação dos Estados Unidos, não aceitaremos a mediação de Trump. Será o fim do papel desempenhado pelos americanos neste processo", disse Nabil Chaath, alto conselheiro do presidente palestino, Mahmud Abbas.

A notícia sobre a intenção de Trump gerou reações de repúdio na comunidade árabe, mas também em países europeus e até na Organização das Nações Unidas (ONU).