Avanço de Bolsonaro no País alarma comunidade mundial

Para cientista político da UFC, texto da revista 'The Economist' tem potencial de causar impacto no mercado

Escrito por Márcio Dornelles - Repórter ,
Legenda: "The Economist" dedica sua nova capa à ascensão de Bolsonaro
Foto: FOTO: REPRODUÇÃO

Uma imagem do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, acompanhada do título "A última ameaça da América Latina", ilustrou a capa da nova edição da prestigiada revista britânica "The Economist", transformando-se em "arma" nos acirrados debates sobre as eleições no Brasil.

A publicação estrangeira comparou o capitão reformado ao controvertido presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e cravou uma opinião contundente conta o nome do PSL: "Se a vitória for para Bolsonaro, um populista de direita, o Brasil corre o risco de tornar tudo pior". Em outro trecho, a "The Economist" bateu forte: "Bolsonaro, cuja nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina".

Para o cientista político Jawdat Abu-El-Haj, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a revista considera que discursos extremados do campo político, seja de esquerda ou direita, simbolizam uma ameaça à estabilidade econômica e podem gerar uma crise, com a fuga de investidores internacionais do mercado brasileiro.

Pós-doutor em Ciências Políticas, Jawdat observou que o teor do artigo da revista britânica terá impacto no ambiente econômico. "No sentido que o mercado vai ter uma certa cautela com Bolsonaro. Apesar de ter Paulo Guedes, que é uma pessoa do mercado, do setor financeiro, como principal assessor. Acho que uma publicação dessas tem um impacto", afirmou.

Paulo Guedes, consultor econômico de Bolsonaro e um dos expoentes da campanha do candidato do PSL, é um ponto de questionamento do cientista político, para quem a "defesa da postura liberal de Paulo Guedes sobre o mercado" contraria o pensamento do militar.

"Você tem uma pessoa como Bolsonaro, com um discurso estatizante. Durante anos, décadas, defendeu essa visão mais focada em um estado quase autoritário, para de repente ele vir e se aproximar da pessoa mais liberal do mercado financeiro. Essa oscilação entre os extremos deixa todo mundo olhando e perguntando qual é a seriedade de um candidato desses?", disse o cientista política da UFC.

Impacto

Avaliando a comparação da revista "The Economist" entre Bolsonaro e Trump, Jawdat Abu-El-Haj cita o "perfil de um presidente bastante subjetivo, impulsivo, emotivo na tomada de decisões importantes" para explicar a instabilidade dos EUA.

"O dólar um dia sobe, um dia cai. Essa oscilação econômica, principalmente agora que entrou em uma guerra comercial com a China, se isso espalha para o Brasil, para outros países que têm peso econômico importante, cria uma instabilidade econômica mundial", pontuou.

O professor da UFC afirma que a situação se assemelha à década de 20 do século passado", quando a fragilidade do setor levou à instabilidade política, que culminou em guerras.

Pesquisas

A influência da crítica da revista deve ser menor nas próximas pesquisas eleitorais, entende o cientista político, para quem o efeito deve ser maior nas elites econômicas do País.

"Ganhando uma pessoa de um perfil como o do Bolsonaro, isso pode criar uma dificuldade econômica séria para o Brasil na área internacional e também no recebimento de investimentos externos", advertiu.

A revista britânica "The Economist", com tiragem de cerca de 1,5 milhão de exemplares impressos, foi fundada em 1843 e já se posicionou em outras ocasiões sobre a política brasileira.

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi citada em editorial de março de 2016, quando o veículo assumiu a defesa do fim do governo dela.

Defesa

Pelas redes oficiais, a publicação rendeu reações. O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, compartilhou comentário de outro usuário, que chamou a revista de "The Communist" ("O Comunista", na tradução).

O deputado federal Major Olímpio, candidato ao Senado e presidente do PSL em São Paulo, minimizou a influência da publicação junto ao eleitorado.

O parlamentar paulista afirmou que "acaba criando uma repercussão negativa momentânea, mas na população que vai votar, (não influencia) absolutamente nada. O número de pessoas que vai ver The Economist é insignificante".