Vicente Pinzón segue marcado por carências

Moradores reconhecem ações realizadas no bairro, mas reforçam que é preciso agir de forma mais efetiva

Escrito por Thatiany Nascimento - Repórter ,
Legenda: Com 45.518 habitantes, segundo dados do IBGE, no Vicente Pinzón, 9,33% da população (4.249) vivem em situação de extrema pobreza
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

A área com uma das vistas mais lindas do mar que banha o lado leste de Fortaleza é também uma das mais vulneráveis. No bairro Vicente Pinzón, os contrastes perduram no tempo. Este mês, a instalação da primeira Unidade de Segurança Integrada (Uniseg) na Capital - no bairro - completou 2 anos. Segundo o Governo do Estado, é uma tentativa de melhorar as ações voltadas para a redução da criminalidade. Ontem, a região recebeu a assinatura da ordem de serviço para o início das obras do Residencial Alto da Paz II.

A intervenção promete disponibilizar 311 moradias na área, além das 1.111 já anunciadas pela Prefeitura. As iniciativas são bem vistas pelos moradores, porém, quem habita o local sabe que as carências sociais são inúmeras e o poder público precisa agir de forma mais efetiva para garantir melhorias reais na vida da população.

Com 45.518 habitantes, segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Vicente Pinzón, 9,33% da população (4.249) vivem em situação de extrema pobreza, ou seja, este contingente de moradores têm renda familiar mensal inferior a R$ 70,00 por pessoa. Na Capital, o bairro é o 7º com maior intensidade de pessoas situadas na extrema pobreza.

Virtudes

No 8º maior bairro de Fortaleza em número de habitantes, os moradores ressaltam distintas virtudes de habitar tal território, mas são consensuais nas carências.

Se a insegurança relativa a Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVPs) - roubos e furtos - tem sido reduzida, ainda faltam equipamentos sociais que consigam suprir as demandas por formação profissional, atendimento às crianças e adolescentes, cultura, lazer e acesso a serviços públicos como saúde e educação. "Eu moro aqui desde que nasci (43 anos) e me orgulho muito do bairro, mas temos muitas faltas. Muitos jovens ficam ociosos. Não existem programas de formação, não tem equipamentos para eles frequentarem", opina a fabricante de esfoliantes, Joana Darc Nogueira.

De acordo com ela, o bairro concentra um população infanto-juvenil expressiva e as oportunidades de desenvolvimento e incentivo são escassas para esse público. A percepção é compartilhada pela vendedora de salgados, Rita de Cássia da Silva e pela dona de casa Josiane Pâmela. Moradoras do Vicente Pinzón há mais de 10 anos, elas reforçam que há demandas por ampliação nas atividades para crianças. "Antes tinham muitos projetos na Escola (Caic Maria Felício Lopes). As crianças tinham aula e depois ficavam lá. Agora nem isso tem mais", reforça Rita.

Morador das proximidades da Uniseg, o comerciante, Leonardo do Nascimento, avalia que a instalação do equipamento é benéfica, mas não supre a necessidade de ampliação das ações de prevenção a violência na região. "A gente não pode reclamar, porque sabemos que é uma tentativa de mudarem as coisas. É perceptível que os assaltos diminuíram, mas ainda são necessárias muitas mudanças e projetos sociais", diz.

O Vicente Pinzón integra a Área Integrada de Segurança 1 (AIS 1) com os bairros Cais do Porto, Mucuripe, Aldeota, Varjota, Praia de Iracema e Meireles. Entre janeiro e fevereiro deste ano, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) a AIS registrou cinco Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). É a área que, neste período, registrou o menor número de ocorrências desse tipo, mas é a AIS que concentra o menor número de bairros. Em igual período, foram contabilizados 435 CVPs na AIS 1. É a sétima área com mais ocorrências do tipo na Capital.

Residências

Outra demanda histórica do bairro é o direito à habitação. Ontem, na assinatura da ordem de serviço para o início das obras do Residencial Alto da Paz II, com o prefeito Roberto Cláudio e o governador Camilo Santana, muitos eram os moradores que aguardavam essa conquista. A desocupação da área, onde cerca de 350 famílias viviam de modo irregular, ocorreu em 2014.

Conforme o prefeito, estas demandas sociais são reconhecidas e a expectativa da Prefeitura é de entrega de 1.111 unidades habitacionais do Alto da Paz I em março de 2019 e dessas 311 em outubro do mesmo ano. Roberto Cláudio também destacou que a Escola Caic Maria Felício Lopes será adaptada e se tornará uma escola de tempo integral e um Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) está sendo idealizado para área. O governador Camilo Santana reiterou o reconhecimento das demandas sociais da região e um das promessas destacadas por ele é que até o final desse semestre uma Escola de Gastronomia será entregue na área.

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