Ventos fortes prejudicam rotina de pescadores e afetam a saúde

Escrito por Redação ,
Legenda: O fenômeno natural dos fortes ventos ameniza o calor quase sempre escaldante da Capital; por outro, aumenta a quantidade de doenças respiratórias e prejudica uma das atividades mais importantes do litoral: a pesca
Foto: FOTO: KLÉBER A. GONÇALVES

Agosto é, tradicionalmente, o primeiro de um período de três meses de ventos fortes em Fortaleza. Se nas demais épocas do ano as correntes de ar circulam a uma média de 15km/h, de acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos (Funceme), na chamada temporada dos ventos, comum no Estado, a velocidade chega a triplicar, com rajadas de até 50km/h. Se, por um lado, o fenômeno natural ameniza o calor quase sempre escaldante da Capital; por outro, aumenta a quantidade de doenças respiratórias e prejudica uma das atividades mais importantes do litoral: a pesca.

A rotina de Elias da Silva Valente, pescador há 20 dos 36 anos de vida, é diretamente alterada durante os meses de agosto, setembro e outubro. Se antes saía ao mar da Barra do Ceará durante a madrugada e voltava à tarde - ou saía por volta das 15h para retornar às 22h -, hoje só vai na hora que o vento deixa. "Eu tento ir quando tá mais fraco, mas às vezes a gente tá em alto-mar quando começa a ventania forte. A atividade da gente fica mais difícil, pode acontecer de o barco virar, quebrar alguma peça. É muito perigoso", reconhece Elias Valente.

O pescador relembra, ainda, episódios em que a teimosia o traiu. "O certo mesmo é não ir pro mar, pra não arriscar. Mas já me aconteceu de ir, passar a noite virado e precisar passar outra embarcação pra ajudar", diz, dando "graças a Deus", mas, ao mesmo tempo, assumindo que "não dá pra parar". "É o jeito a gente ir, enfrentar o vento, porque o filho e a mulher precisam. Ficar parado nessa época dá prejuízo pra família, porque a gente vive do que pesca. Se não pegar peixe, fica sem ganhar nada. O governo e as entidades não dão nada pra gente ficar em casa", declara.

Intensificação

Além da economia pesqueira, outra importante questão do dia a dia é afetada pela intensificação dos ventos: a saúde. Até julho, 460 casos de Síndromes Respiratórias Agudas - 445 deles apenas por influenza - foram registrados no Estado, de acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). O número, como aponta a médica pneumologista e diretora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Valéria Goes, tende a crescer nos próximos meses.

"Esses ventos espalham mais ainda poeira, pólen de flores, pelos de animais e outros vários agentes que podem desencadear alergias respiratórias, mais frequentes nesse período. As mais comuns são rinite alérgica, rinossinusite, asma e, inclusive, a conjuntivite, envolvendo sintomas como coceira no nariz e na garganta, espirro, coriza, obstrução nasal, dor na face, tosse seca e outros", lista a pneumologista.

Aliadas aos fortes ventos, as temperaturas mais baixas também potencializam transtornos e requerem maiores cuidados com a saúde. "É necessário conservar o ambiente de casa limpo, evitar acúmulo de poeira. Não varrer, e sim passar o pano úmido, evitando produtos de limpeza com cheiro forte, porque dão falsa ideia de limpeza e os aromatizantes agridem a muscosa respiratória", recomenda a médica, acrescentando ainda precauções individuais. "Se a pessoa já tem diagnóstico de doenças respiratórias, é preciso manter a medicação. Assim, gera estabilidade e diminui chance de crise. Evitar o tabagismo também é fundamental", frisa Valéria.

Intensos

A explicação para o fenômeno tão comum quanto tradicional é simples, como resume o supervisor da Unidade de Tempo e Clima da Funceme, Raul Fritz. "São os ventos alísios, que sopram a partir do Oceano e se tornam mais intensos a partir deste mês. Isso é comum devido à ausência de sistemas meteorológicos que causam chuvas. Quando a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) está atuando, por exemplo, os ventos tendem a diminuir. Agosto, setembro e outubro representam esse pico, com velocidades médias mais altas", destaca Fritz.

Entre 31 de julho e ontem, as rajadas atingiram 41km/h, a tendência é que o valor aumente, principalmente na Capital. "Historicamente, os ventos são mais intensos ao longo do Litoral Cearense. No Interior do Estado, eles são mais fracos. Apesar disso, a sensação térmica nesse período tende a diminuir com ventos mais regulares, constantes e intensos, que retiram o calor da nossa pele", analisa o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia.

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