Turismo cultural é esquecido na Capital cearense

Escrito por Redação ,
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Investir em políticas públicas e na formação desde as escolas seriam maneiras de valorizar o turismo no Centro

Famosa por suas belas praias, Fortaleza é uma cidade que, incontestavelmente, possui o litoral como um dos principais atrativos turísticos. O problema, entretanto, é quando outras áreas, diante disso, passam a ser “secundárias”, pois acabam esquecidas como “arquivo”da história e da cultura. Para as férias, que tal praticar o chamado turismo cultural e, quem sabe, conhecer a cidade a partir de edificações no Centro?

Por meio de visitas, descobertas e entendimentos acerca das mudanças e curiosidades da cidade são possíveis. Afinal, detalhes contam a nossa história, como o fato de que a Estação Ferroviária João Felipe foi construída em cima do Cemitério de São Casimiro; que a líder revolucionária cearense Bárbara de Alencar foi presa no Forte Nossa Senhora da Assunção; e que outro revolucionário, o jangadeiro Chico da Matilde, deu nome ao Centro Dragão do Mar... Enfim, é saber o que aconteceu e como chegamos aos dias de hoje.

“Com o turismo cultural, em pontos históricos, pode-se conhecer cada localidade. Na verdade, só se conhece de verdade um lugar ao se entrar em contato com os patrimônios históricos. Sem esse turismo, não se sabe nem como se formou a cidade”, observa o mestre em Turismo e doutorando em Geografia, José Solon Sales e Silva. Segundo ele, que também é professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e do Instituto Federal do Ceará (IFCE), o olhar mais interessado sobre o Centro possibilita inclusive que se saiba como houve a evolução até do próprio fortalezense.

O contraste, como alerta Solon, é que “o próprio fortalezense não se conhece. Alguns nunca foram ao Centro”. Para o professor do Doutorado em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eustógio Dantas, doutor em Geografia, isso acontece também pelo fato de que, em cidades litorâneas, há uma preferência pelas praias. Sendo, portanto, o fluxo turístico para os patrimônios secundário. “Os usuários tendem a se render aos apelos das praias. Poucos descobrem a possibilidade de relaxar diante das belezas existentes dos patrimônios”.

Até mesmo porque, acrescenta Dantas, o fortalezense não possui um vínculo ou apego tão forte com a cultura, se comparados a outras cidades como Recife e Salvador. “São como judeus, cidadãos do mundo, se adaptam em vários lugares”. Por outro lado, como critica o professor José Solon, há também a ausência de infraestrutura e as mudanças pelas quais passaram a cidade que atraíram a atenção para outras áreas. Por exemplo, Solon cita a questão a tão falada insegurança no Centro, que acaba por afastar a população do bairro.

Outro agravante, como lembra, é o forte “investimento” comercial e financeiro em outros bairros, como Aldeota e Montese. “As pessoas perderam o hábito de ir ao Centro. Agora, o bairro é frequentado pela população de baixa renda, pois na periferia não se oferecem os serviços buscados”.

SOLUÇÕES
Investir na educação infantil

Para os especialistas, um das maneiras de reverter o "descaso" com os patrimônios históricos do Centro seria o investimento em políticas públicas de incentivo ou, até mesmo, a criação de estruturas, como estacionamentos e mais segurança.

Também, defende o professor da UFC Eustógio Dantas, deve acontecer um investimento maciço na formação e na sensibilização das crianças desde as escolas. "Não é errado que se valorize o litoral. O problema é que tem de haver uma maior sensibilização para que toda essa riqueza cultural também seja explorada", frisa. Até porque, como resume José Solon, "não se pode ensinar o que não conhece". Por isso, é necessário sensibilizar e disseminar a importância desses pontos históricos.

A Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) reconhece que o hábito dos fortalezenses de optar pelo turismo cultural no Centro ainda não é o desejado. Porém, como justifica a coordenadora de Planejamento e Informações da Setfor, Tatiana Braga, os turistas de outros estados praticam esse turismo. E, para incrementá-lo, mudanças, parcerias e políticas públicas são previstas para o futuro e algumas já vêm acontecendo.

Em relação à visibilidade dos patrimônios, diz que a AMC, já sinalizou os patrimônios para os condutores de veículos.

Horário de visitação

Forte Nossa Senhora da Assunção: segunda a quinta - 8 às 17h; sexta- 8 às 12h; sábado e domingo- 8 às 16h

Centro Dragão do Mar: terça a sexta- 8h30 às 21h30; sábado e domingo - 14h30 às 21h30

Mercado Central: segunda a sábado- 8 às 19 h; domingo - 8 às 13h

Estação Ferroviária Professor João Felipe: domingo a domingo - 6 às 22 horas

Catedral: segunda a sexta- 8 às 17h30; sábado - 8 às 12h; domingo - 8 às 12h e 17h30 às 20 h

Museu do Ceará: terça a sábado - 9 às 17 horas

Janine Maia
Repórter

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