Transplante de medula no Ceará completa 10 anos

Cadastro em registro nacional de doadores voluntários aumenta chances de encontrar pessoas compatíveis

Escrito por Vanessa Madeira - Repórter ,
Legenda: Nayane (esquerda) recebeu transplante de medula óssea com a doação de Raianne
Foto: FOTO: KID JUNIOR

Em 2008, o Ceará alcançava mais um marco histórico no setor de doação e transplante de órgãos: era realizado o primeiro transplante de medula óssea no Estado, pondo fim ao drama de pacientes que precisavam se deslocar a outras regiões do País para passar pelo procedimento e, assim, obter nova esperança de vida. Neste ano, o episódio, que contribuiu para a consolidação do setor estadual de transplantes, completa uma década. De lá para cá, o Ceará contabilizou 523 procedimentos executados e 175,8 mil doadores de medula cadastrados.

O hematologista Fernando Barroso, chefe do setor de medula óssea do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) e da unidade de onco-hematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), liderou a equipe responsável pelo transplante pioneiro no Estado e afirma que, à época, foi preciso convencer as autoridades médicas sobre o potencial cearense para a realização dos procedimentos.

INFO

Capacidade

"Fiquei durante 10 anos, de 1998 a 2008, tentando mudar o setor de transplantes no Estado. Era muito difícil mudar o ponto de vista cultural e fazer as pessoas compreenderem que era possível, que nós tínhamos capacidade de fazer. Hoje, a gente colhe os frutos", lembra, ressaltando a parceria entre o Hemoce e o HUWC, que tem viabilizado grande parte dos transplantes no Estado do Ceará.

O procedimento realizado em 2008 abriu portas para que cearenses como a auxiliar administrativa Nayane Monteiro, de 23 anos, pudessem ter esperanças renovadas. Diagnosticada com leucemia em 2016, Nayane foi indicada para um transplante de medula óssea depois que as sessões de quimioterapia não surtiram efeito significativo na remissão da doença.

Compatibilidade

Mesmo com apenas 30% de chances de encontrar um doador na família, a irmã mais nova, Raianne, foi compatível. "Tem pacientes com sete irmãos e nenhum é compatível. Foi uma alegria muito grande quando a gente descobriu. Depois do transplante, fiz os exames de confirmação de remissão e, graças a Deus, não há mais células cancerígenas no meu corpo", comemora Nayane.

Importância

Se, entre parentes, as chances de compatibilidade são baixas, fora do eixo familiar, elas caem para uma a cada 100 mil doadores cadastrados. Por isso, a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, destaca a importância de entrar para o Registro Nacional de Doadores Voluntário de Medula Óssea (Redome). O Ceará possui 175.859 doadores registrados, o maior número do Nordeste, e 451 receptores. "Já que somos uma população que tem miscigenação forte, é difícil encontrar uma pessoa idêntica nesse sentido. Por isso, quanto maior o número de doadores, maior a chance de encontrar um compatível".

Para se cadastrar no Redome, é necessário possuir entre 18 e 55 anos, não ter tido câncer e apresentar documentação de identidade. É realizada a coleta de 5ml de sangue para que sejam feitos exames de mapeamento genético.

Doe de Coração

Neste mês de setembro, a Fundação Edson Queiroz promove o movimento "Doe de Coração", com o intuito de mobilizar a população cearense para a doação de órgãos. A campanha ocorre por meio da distribuição de material informativo sobre a doação; da veiculação de anúncios em jornais, portais de notícia, rádios e emissoras de TV; e de parcerias com hospitais públicos e particulares.

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