Suassuna é ´Honoris Causa´

Escrito por Redação ,
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Solenidade foi marcada pela descontração e pela defesa ardorosa da cultura nacional

O dramaturgo, romancista, poeta e professor Ariano Suassuna recebeu, na noite de ontem, o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará (UFC). O ritual previsto para a solenidade foi mantido, contudo se sobressaiu o jeito simples, sincero e bem-humorado do homenageado, autor de obras como "Auto da Compadecida", que, em sua exposição, ratificou mais uma vez sua paixão pela cultura brasileira, em especial, a nordestina.

Ariano Suassuna, durante sua falação, não só prendeu a atenção da plateia como arrancou aplausos e risos. Fez críticas ao estrangeirismo, foi contundente ao citar exemplos de "lixo cultural" e explicitou claramente sua decepção ao constatar que a África do Sul não priorizou sua própria cultura na abertura da Copa do Mundo.

Confessando-se corajoso e teimoso, o novo Doutor Honoris Causa da UFC contou "causos" de sua vida, que passaram pela escolha errada do Direito, na juventude. Condenou a pouca valorização da Língua Portuguesa e fez o público gargalhar ao ironizar o uso de nomes de batismo americanizados. O escritor e criador do Movimento Armorial foi enfático, ainda, ao declarar sua intolerância com o que qualificou de lixo cultural.

"Eu me dou o direito de ridicularizar o que é ridículo", disparou, acrescentando que luta "contra o mau gosto". A seguir, fez referências às bandas de forrós que fazem sucesso em âmbito nacional. "Daqui a seis dias, completo 83 anos", lembrou frisando não ter problemas com a velhice, que só contribui para ter coragem de falar e assumir o que pensa. Um País que teve um Villa-Lobos precisa valorizar a boa música é uma de suas teses.

O título foi proposto pelo professor René Barreira, quando reitor da UFC, em 2006, e aprovado, por unanimidade, na reunião de 8 de dezembro de 2006 do Conselho Universitário. Ontem, coube ao atual reitor da instituição, Jesualdo Farias, encerrar a solenidade. Ressaltou que Ariano Suassuna "recebe a nossa reverência, o nosso caloroso aplauso e o nosso galardão mais precioso", comentou sobre o título concedido.

Ariano Suassuna nasceu no dia 16 de junho de 1927, na Paraíba. Seu pai foi assassinado, por questões políticas, no Rio de Janeiro, às vésperas da Revolução de 30, o que levou sua mãe, dona Rita, e os nove filhos a se transferirem para Taperoá, no Cariri paraibano.

Formou-se em Direito, em 1950, e em Filosofia, em 1960. Sua estreia literária foi em 1945, aos 18 anos, quando publicou, no "Jornal do Comércio", o poema "Noturno".

É autor de peças como "Cantam as harpas do Sião", "Auto da Compadecida", "O casamento suspeitoso" e "O santo e a porca". Destacou-se como idealizador do Movimento Armorial, que criou arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina. Desde 1990, ocupa a cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Seus livros já foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês.
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