Sem cubanos, municípios do Ceará têm déficit de atendimento

Apesar da falta de profissionais já registrada em unidades municipais os órgãos de saúde não informaram quantos médicos deixaram o Estado.

Escrito por Redação , metro@verdesmares.com.br

A perda de médicos cubanos integrantes do programa Mais Médicos já repercute em um pilar imprescindível para a qualidade de vida de moradores do Interior do Ceará. Apesar da falta de profissionais já registrada em unidades municipais, os órgãos de saúde do Estado não souberam informar quantos médicos já deixaram o solo cearense.

Em Iguatu, no Centro-Sul cearense, 65% dos atendimentos em saúde eram compostos por profissionais cubanos integrantes do Mais Médicos. O Município contava com uma equipe de 19 estrangeiros em 31 unidades do Programa de Saúde da Família (PSF).

A Unidade Básica de Saúde (UBS) Ernani Barreira, no bairro Flores, foi uma das que ficaram desassistidas após a saída dos profissionais cubanos. A dona de casa Márcia Vieira, mãe de Gabriel, de 10 meses, não conseguiu atendimento, nesta semana, e lamenta a ausência dos profissionais de saúde estrangeiros. "Acho muito triste, porque a gente era superbem atendida. Eles tinham paciência, eram carinhosos como nenhum daqui. E agora temos que ficar esperando, sem saber quando vamos ser atendidos".

A UBS é a maior do município e contava com três médicos, dos quais dois eram cubanos, para atender a uma média diária de 350 pacientes. Os profissionais do programa federal já deixaram a cidade. Apesar disso, de acordo com a coordenadora da UBS, Orbeli da Costa, o atendimento "vai continuar, sempre atualizando a população sobre o que está acontecendo".

Para isso, a Secretaria de Saúde de Iguatu afirma que será preciso "criar uma logística para atender aqueles pacientes que não podem esperar, direcionando para as unidades básicas disponíveis ou para as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs)".

Sobral

A 240km de Fortaleza, uma das maiores cidades do Ceará também passa por transtornos pela saída dos médicos cubanos: dos 23 médicos atuantes em Sobral, oito eram estrangeiros. Antes da implantação do programa, o município nunca havia completado as equipes de Saúde da Família. A cuidadora de idosos Cleonice Saraiva reclama que tem vários problemas de saúde, e que só passou a ser acompanhada "à risca" após a chegada de uma médica cubana na unidade de saúde.

A coordenadora de Atenção à Saúde de Sobral, Josiane Dornelles, demonstra preocupação quanto à perda dos profissionais do Mais Médicos para a plenitude nos serviços ofertados na rede, mas garante que haverá "esforço" para impedir transtornos à população. "Até conseguirmos a reposição desses médicos, vamos organizar para que nenhum fique sem atendimento", disse.

No Ceará, 115 cidades são contempladas com profissionais do programa do Governo Federal. As cidades de Maranguape, Caucaia e Uruburetama, que tinham profissionais cubanos, não aparecem na lista do edital do Ministério da Saúde. Sobre a substituição dos médicos retirados do País e o possível déficit nos 118 municípios cearenses que eram assistidos por eles, o Ministério da Saúde afirma, em nota, que "vai fazer um balanço das informações após o encerramento dos editais" dos concursos lançados para ocupação das vagas.

De acordo com a Pasta, até essa quinta-feira (22), foram registradas 6.394 inscrições, das quais 2.812 acabaram efetivadas. Chegaram a ser alocados, ainda, 2.209 médicos brasileiros. As informações sobre o Ceará não foram fornecidas. O Ministério da Saúde divulgou, ontem, que vai prorrogar as inscrições para a nova seleção de profissionais.

A reportagem questionou à Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) quantos municípios cearenses já perderam os médicos cubanos e se existe um prazo para os profissionais deixarem o Estado, mas a Pasta informou que não dispõe desses dados, uma vez que ficam a cargo das secretarias municipais. O presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Josete Tavares, informou apenas que os médicos tiveram atividades encerradas dia 21.

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), responsável pelo convênio Brasil-Cuba, também não revelou a atual situação dos profissionais cubanos no Ceará, informando apenas que "alguns deles já começaram a sair dos municípios" e que os primeiros voos de retorno dos médicos cubanos no Brasil já estavam marcados para ontem, hoje e amanhã. Até o dia 12 de dezembro, todos os mais de oito mil médicos devem deixar o Brasil.

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