Saúde para (sobre)viver

Escrito por Redação ,

Bem-estar físico, mental e social. Desejo constante para si, para outro e missão de vida. São objetivas e óbvias as definições de saúde para a agente comunitária (ACS) Aline Sousa, que costura as ruas e os retalhos de recursos escassos do Grande Jangurussu, em Fortaleza, há oito dos 32 anos de vida, na tentativa de levar à comunidade um direito constitucional, humano e inalienável - mas constantemente ameaçado, sobretudo aos mais pobres.

O foco da atuação dos ACS, que trabalham no contexto do Programa de Saúde da Família (PSF), são as gestantes, as pessoas vulneráveis a doenças sobretudo mentais, "como a depressão, por conta do contexto social que vivemos em relação à violência"; e as crianças, cujo acompanhamento socioeconômico e educacional "muitas vezes não acontece". "Não adianta vermos a saúde só no âmbito físico, mas numa perspectiva global. A doença física provém de outros fatores, de direitos negados que precisamos buscar e orientar", sintetiza Aline. O contexto nacional de corte de gastos em áreas prioritárias, incluindo a saúde, também preocupa. "Se eu trabalho sabendo que não existem recursos para manter programas e ações, sei que as coisas não vão andar. Precisamos de mais profissionais do PSF, mais equipamentos e insumos", lista a agente comunitária, com a propriedade de quem conhece pessoalmente cada necessidade de uma periferia castigada pela escassez e pela violência urbana.

"Nós vemos quem nasce e quem morre, todas as pessoas nos conhecem e nós conhecemos a realidade de cada família. Não tem como fazermos só o nosso trabalho, a gente acaba se tornando membro do território. E, por isso mesmo, queremos que ele seja bom para todos", declara a agente, informando que "toda semana chega mais gente pros conjuntos habitacionais", uma demanda de serviços que aumenta sem proporção com a oferta.

"Cresce o quantitativo populacional e, com ele, surgem mais questões sociais, de saúde e de lazer, então as políticas já fragilizadas acabam ficando mais insuficientes ainda. Até a permanência de um dos postos de saúde da região dependeu de muita luta dos moradores", lamenta a profissional, descrevendo um episódio do qual o aposentado José Rodrigues, 65, morador da comunidade Santa Filomena há 23 anos e acompanhado por ela, participou.

"Se não fosse a comunidade se mobilizar forte, forte mesmo, a gente num tinha isso aí não", diz, num tom que transmite muito mais preocupação do que orgulho.

Isso porque seu José vai abrir a porta para 2019 entrar e dividir espaço com as duas hérnias intestinais que o afligem, já que, mesmo com exames feitos em clínicas particulares, "pra agilizar", não conseguiu agendar procedimento na rede pública.

"A saúde da gente é o mais importante, né? Mas a gente num tendo condição, às vezes não dá ficar bom, não".

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