Projeto resgata a história do bairro

Escrito por Redação ,
Iniciativa do IACC tem o objetivo de preservar e divulgar a cultura; mais cinco bairros devem receber a ação

Como esse bairro começou? Essa indagação, em geral, pode permanecer sem resposta ou demorar muito tempo para ser respondida, dependendo do local onde se mora. Para resgatar a memória do bairro e, assim, preservá-lo, o projeto "Patrimônio para Todos - uma aventura através da memória", desenvolvido pelo Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC), iniciou suas atividades em Fortaleza, no Jardim Iracema, onde permanece até o próximo sábado (11).


Os próprios adolescentes e jovens residentes no bairro fazem investigações de histórias e lendas locais. Vídeos e fotos serão produzidos Foto: Alcides Freire

De acordo com a facilitadora Micinete de Lima, através de investigações dos próprios adolescentes e jovens residentes no bairro, o projeto se propõe a revelar histórias e lendas locais importantes e, depois, ainda produzir vídeos e fotos, que serão divulgados posteriormente no blog da iniciativa (www.patrimonioparatodos.wordpress.com) e nas redes sociais.

Para o estudante Anderson Feitosa, 20 anos, cada dia de curso tem sido de boas descobertas. Nascido em Paraipaba, ele reside no Jardim Iracema há cinco anos e confessa que sabia muito pouco sobre a história do local. "Meus tios moram aqui e eu sempre vinha passar férias, mas não conhecia nada além do endereço deles ou dos principais pontos do comércio", conta.

Hoje, ele é presidente do grupo local de Boi Bumbá e acredita que as informações que irá aprender no projeto poderão ajudar nas suas atividades. Além disso, admite que se apaixonou ainda mais pelo local. "Não quero me mudar daqui nunca", destaca.

Já a aposentada Maria do Nascimento da Silva não participa do projeto, mas é testemunha viva das mudanças que aconteceram no Jardim Iracema, nos últimos 40 anos.

Lembranças

Moradora da localidade desde 1971, Maria do Nascimento é natural de Pacajus, mas chegou no bairro em uma época na qual ainda não havia calçamento, água encanada e energia elétrica. "Aqui era só mato e a gente sobrevivia da agricultura. A grande atração era a horta comunitária, onde nós plantávamos e vendíamos para o Mercado São Sebastião", conta.

Essas lembranças, Maria do Nascimento ajudou a reavivar especialmente no ano de 2008, quando a localidade foi registrada oficialmente. "Para registrar, nós fizemos uma pesquisa e conseguimos reunir material para provar que o Jardim Iracema é, sim, um bairro", explica.

Entre as memórias, está a de que o bairro, muito tempo antes de ser loteado, servia de local de descanso para os índios que vinham de Maranguape até a Praia. "Era uma trilha muito antiga, cheia de riachos e lagoas. Quem sabe a índia Iracema não passou por aqui também?", brinca a aposentada.

Oficinas

Depois do Jardim Iracema, escolhido pela forte presença da população negra, o projeto irá ainda oferecer outras dez oficinas para contemplar 180 jovens de cinco bairros: Joaquim Távora/Piedade (13 a 18 de agosto), Pici e Montese (20 a 25) e Sabiaguaba (27 de agosto a 1º de setembro). Conforme o IACC, os locais foram escolhidos devido às fortes relações das culturas afrodescendentes e indígenas em suas manifestações tradicionais.

Neste ano, a etapa do projeto em comunidades do interior atendeu 330 jovens nas cidades de Crateús, Poranga, Monsenhor Tabosa, Itarema, Horizonte, Tururu, Iracema e Aratuba.

A capacitação inclui 100 horas de oficinas divididas em cinco módulos. O objetivo é desenvolver habilidades relacionadas à prática da educação patrimonial, ao uso das novas tecnologias no registro dos bens culturais, além de conceitos básicos de linguagem audiovisual aplicada ao patrimônio cultural.

FIQUE POR DENTRO
Local está registrado há apenas dois anos

O Jardim Iracema é um bairro na zona Oeste de Fortaleza. Está localizado na Secretaria Executiva Regional III e tem, aproximadamente, 22 mil habitantes.

Considerado um dos bairros de presença significativa da população negra, possui várias manifestações tradicionais características, como o Maracatu Nação Iracema. Oficialmente, a localidade está registrada há apenas dois anos, apesar de ter mais de 40 anos de ocupação.

KELLY GARCIA
REPÓRTER
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