Projeto incentiva combate à violência contra a juventude

Por meio do "Mucuripe da Paz", jovens do Vicente Pinzón participam de rodas de diálogo, eventos culturais e atividades de formação. Objetivo é que atuem como agentes da paz na comunidade

Escrito por Renato Bezerra , renato.Bezerra@diariodonordeste.com.br

Como conversar de forma não violenta? Foi a partir desse questionamento que 11 adolescentes e jovens do bairro Vicente Pinzón estiveram reunidos, na última quarta-feira (23), para tentar colocar no papel exemplos de diálogos que promovam uma cultura de paz. O tema foi abordado durante uma das oficinas realizadas pelo "Mucuripe da Paz", projeto desenvolvido pelo Instituto Terre des hommes Brasil, com ações de prevenção à violência nas comunidades do Grande Mucuripe.

O foco de trabalho são os jovens - que figuram entre as principais vítimas da violência urbana - como agravo em um contexto onde as novas formas de atuação do crime organizado assediam, especialmente, a juventude nas comunidades. Só no ano passado, 981 jovens foram assassinados no Estado, segundo levantamento do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA).

Dentre as linhas de ação adotadas, está o fortalecimento do protagonismo juvenil, segundo explica a assistente social do Instituto Terre des hommes Brasil, Paula Rodrigues. O objetivo é que os atuais 24 jovens atendidos pela iniciativa sejam agentes da paz na comunidade, trabalhando como multiplicadores do que aprendem. "Trabalhamos para que eles façam formações, aprendam metodologias e as apliquem em seus território. A gente atua em cinco escolas do bairro e como eles são multiplicadores nossa estimativa é que, ao fim do projeto, 4 mil crianças e adolescentes sejam sensibilizados", diz.

As metodologias de prevenção à violência são trabalhadas, destaca, a partir da parceria entre diversas instituições locais, por meio das quais podem ser realizados círculos de diálogos, de resolução de conflitos, eventos culturais pela paz, oficinas e demais atividades de formação.

Na avaliação da assistente social, são atividades necessárias no combate à falta de oportunidades, um dos problemas enfrentados pelo jovem de periferia, assim como a letalidade infanto-juvenil.

Espaços

"Os jovens que estão aqui não recebem bolsa ou qualquer remuneração em dinheiro. Estão porque querem fazer do seu espaço de convivência um lugar melhor, seja no seu espaço familiar, no espaço da escola ou no círculo de amigos. O jovem precisa de oportunidades e de espaços para estar, espaços de lazer, de cultura, então o projeto dá essas possibilidades e a partir delas eles vão formando sua cidadania, seus projetos de vida, formando o que eles querem ser", diz Paula Rodrigues.

Gabriel Pig, 17, nasceu e cresceu no Vicente Pinzón, bairro com um dos piores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Capital - de 0.33 - classificado como muito baixo. Participante do projeto há 1 ano e seis meses, no entanto, as experiências adquiridas até aqui foram suficientes para que o adolescente se projete num cenário mais otimista, tendo como meta a formação em serviço social ou psicologia. "O diálogo tem tudo a ver comigo e poder ajudar a comunidade é o que eu quero".

Para o estudante Breno Caetano, 22, integrante do Mucuripe da Paz desde o início, a iniciativa se destaca pela promoção de espaços de fala e de incidência política aos jovens, incentivando competências como o diálogo e a resiliência. Para ele, habilidades que podem fazer a diferença num contexto de vulnerabilidade social.

"Todas as ações acontecem em espaços da comunidade, então uma hora você está na escola como estudante e, em outra, retorna para facilitar uma roda de diálogo. Esse jovem é um multiplicador e serve como exemplo, promove uma transformação".

O Instituto Terre des hommes Brasil é uma organização não-governamental sem fins lucrativos, que faz parte da Fondation Terre des hommes (Tdh), organização suíça com sede em Lausanne. Os projetos apoiados pela entidade são referência em temáticas como crianças e adolescentes em situação de rua, enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, trabalho infantil e convivência familiar e comunitária.

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