Postos registram falta de vacinas de rotina

Em pelo menos duas unidades, doses contra poliomielite, sarampo e meningite não foram encontradas

Escrito por Redação ,
Legenda: A Secretaria Municipal de Saúde informou que a falta é pontual, mas pessoas ouvidas pela reportagem relataram atrasos de até um mês.
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Para muitas doenças, sejam causadas por vírus ou por bactérias, as vacinas são as únicas ou mais eficazes formas de prevenção. Quando o assunto são bebês de até seis meses, então, a necessidade de os responsáveis seguirem o calendário de vacinação é ainda mais determinante - mas, em alguns casos, esbarra na falta de imunizações básicas. Ontem, em pelo menos dois postos de saúde de Fortaleza, situado nos bairros Jacarecanga e Pirambu, faltavam doses de vacinas básicas, como poliomielite e sarampo, em pleno período de campanha nacional; e mais duas das obrigatórias para os bebês: pneumocócica e pentavalente.

A dona de casa Cláudia Gomes, 30, elegeu como primeira atividade do dia levar os dois sobrinhos e um primo pequeno, de dois e três anos de idade, para imunizá-los contra pólio e sarampo, atenta à campanha nacional iniciada na última segunda-feira (6) - no posto de saúde Virgílio Távora, porém, deu viagem perdida. "Fui lá porque é perto de casa, mas não tinha nem as vacinas da campanha. Não deram previsão de quando ia chegar, ainda bem que a gente tem transporte próprio e trouxe eles. Imagino quem não pode vir, né? E é muito importante prevenir", avalia, enquanto aguardava para entrar na sala de vacinação do posto de saúde Carlos Ribeiro, no bairro Jacarecanga.

Nesta unidade de saúde, a dona de casa Rosiane Ferreira, 36, também estava em segunda viagem: e não seria a última. Após a segunda tentativa de obter as vacinas pneumocócica, poliomielite inativada (VIP) e pentavalente, que constam no calendário de vacinação para crianças de dois, quatro e seis meses; para a pequena Maria Isabel, de 8 meses, Rosiane saiu do posto Carlos Ribeiro novamente sem sucesso. "Era pra ela ter tomado todas no dia 25 de junho, já tem mais de um mês de atraso. Daqui a pouco eu vou precisar pagar, porque não dá pra deixar ela desprotegida", reclama.

Uma técnica da unidade de saúde, que preferiu não ser identificada, confirmou que a falta de doses sempre ocorre, "por causa da grande demanda", já que o posto é um polo que concentra público de vários bairros da Regional I - inclusive dos moradores do entorno do posto Virgílio Távora, onde na manhã de ontem, segundo dia da campanha nacional, faltavam doses das principais vacinas, contra pólio e sarampo. A técnica de enfermagem Francineuma da Silva, 49, foi um das que saíram do posto sem ter sido vacinada.

"Eu trouxe a minha filha de 4 anos pra tomar a da paralisia infantil e ia aproveitar pra tomar a do sarampo, mas o jeito é voltar amanhã", lamenta. De acordo com uma funcionária do setor de imunizações da unidade, as faltas acontecem no intervalo entre o envio do mapa de vacinas (que contém a estimativa de doses necessárias para o mês) e o recebimento das doses pela Secretaria Regional, "o que leva de três a quatro dias". Apesar disso, ela revelou que "em abril, a pneumocócica chegou a faltar por dois meses".

Operacional

Conforme a coordenadora de Imunizações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), Ana Vilma Leite, o fluxo entre a produção das vacinas nos laboratórios do Brasil ou internacionais e a aplicação das doses na população passa por diversas instâncias - mas quando chega a Fortaleza, por exemplo, cidade que possui Central de Armazenamento própria, a responsabilidade de abastecer os postos de saúde em todos os bairros é da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Segundo Ana Vilma, "a grande questão para ausência de doses em postos é operacional", já que "o Ceará não está com problema de falta de vacina". "Se houver, é uma falta momentânea, porque os postos não podem acondicionar a vacina de todo o mês naquela geladeira. Eles recebem um quantitativo X, para que possam dar vazão, e quando o estoque está finalizando, devem ligar para a Secretaria Executiva Regional pedindo reposição". Apesar disso, Ana Vilma Leite reconhece que alguns repasses do Ministério da Saúde ao Estado foram reduzidos. "Tem meses em que chega menos, realmente, como a da meningite C. Mas é um problema nacional, e não deixamos de receber, só não recebemos a quantidade completa", explica.

Outra imunização cuja distribuição pela Pasta nacional aos estados diminuiu, gerando déficit sobretudo em cidades do Interior, foi a pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, meningite B e poliomielite), com primeira dose prevista no calendário para bebês de dois meses. Segundo a gestora da Sesa, porém, "a meta foi integralmente repassada aos municípios cearenses, no mês passado, e será enviada em dobro neste mês, para evitar qualquer falta". O problema, conforme ela aponta, "foi a diminuição da produção" e, consequentemente, de repasse nacional.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que a distribuição das vacinas segue "um planejamento estratégico conforme população e capacidade de armazenamento das unidades". A SMS disse ainda que a campanha tem gerando uma procura maior pela vacina o que pode gerar um desabastecimento pontual, que é regularizado com a distribuição de novas doses.

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